Imagem: Elle Itália/David Burton
Como noticiado pelo Florence Brasil, a edição de outubro (2017) da revista Elle Itália traz uma entrevista exclusiva com a cantora Florence Welch, conduzida por Adriana Di Lello, recheada de elogios e fotos ineditas, capturadas pelas lentes do fotógrafo David Burton.
Abaixo, leia a tradução completa:
Uma rosa inglesa com uma alma angustiada. Florence Welch, a estrela pop barroca, cantora e líder da Florence + The Machine, é uma heroína perfeita em nossos tempos turbulentos. Punk e pré-Rafaelita, doce e feroz, carismática e poderosa no palco, mas frágil em sua vida privada. Os três discos de Florence + The Machine, cheios de letras problemáticas, fizeram milhões de pessoas em todo o mundo se apaixonarem por ela, especialmente graças aos vocais profundos e poderosos e às atuações intensas e teatrais desta londrina de 30 anos, filha de uma professora de Estudos do Renascimento e de um diretor de publicidade.
Alessandro Michele é um dos seus maiores fãs: diz a lenda que o diretor criativo da Gucci costumava ouvir o último álbum de Florence, How Big How Blue How Beautiful, enquanto projetava sua primeira coleção para a Casa de Moda Italiana. Então, foi um pequeno passo para uma verdadeira amizade entre eles - reforçada por seu amor pela poesia de William Blake. Agora, Florence é uma embaixador das jóias e relógios da Gucci, bem como do estilo maximalista e decadente que fez de Alessandro Michele o "queridinho" da indústria da moda. Nós a conhecemos em Milão, exatamente como uma embaixadora da Gucci, e ela deu uma entrevista exclusivamente para a Elle. Cabelos altos e longos e pálida, vestindo uma blusa bordada, branca e azul, jeans com flores e formigas bordadas, um pingente de garra e anéis com cabeças de touro e lobo (look total da Gucci, é claro) - ela imediatamente revela tua alma de rock. Ela é muito educada, calma e relaxada, às vezes, mas você pode sentir claramente uma ansiedade subjacente e incessante. Ela se move continuamente enquanto está sentada em uma pequena poltrona, muda de postura, explode rindo e se torna séria logo depois, tocando seus anéis enquanto tenta falar. Ela fica sombria, às vezes, mas mantém uma clássica elegância britânica.
Imagem: Elle Itália/David Burton
Por que você gosta tanto da Gucci, de Alessandro Michele? Eu acho que nunca conheci um designer cuja visão combinasse tão perfeitamente com a minha. As minhas letras são o resultado de diferentes influências: poesia, arte, conversas, mensagens de WhatsApp. Dog Days Over Over foi inspirado pela obra de Ugo Rondinone, que vi sempre que andava de bicicleta pela Waterloo Bridge. Encontrei, também, esta fusão em Alessandro e, instintivamente, me identifiquei com ele. O que você mais admira no estilo dele? É um estilo criativo, sua mistura extrema parece não fazer sentido, mas, na verdade, está cheia de sua sensibilidade. Misturando a Renascença, a poesia de Elton John e Blake é como um salto mortal triplo, mas funciona perfeitamente. Quando ele me enviou anéis de prata e esmaltes de unha para o show, eu olhei neles e encontrei as palavras "floresta de raiva" gravadas dentro. Na verdade, é um absurdo, mas faz sentido em sua estética excêntrica. Como vocês se conheceram? A primeira vez, em Nova York, por acaso. Nós nos cruzamos na rua, eu estava usando uma boca de sino vermelha e um colete de pompom, ele estava usando suas roupas Shakesperianas clássicas: era inevitável que déssemos uma olhada um para o outro, embora nós dois continuássemos caminhando sozinhos. Mais tarde, nos apresentamos e foi como "Ah, era você!" e, imediatamente, nos aproximamos e descobrimos nosso amor pela beleza imperfeita, nunca muito bonita, mas misturada com elementos escuros. E anéis. Muitos anéis! Na verdade, você é embaixadora das jóias e relógios de Gucci ... Adoro usar jóias como talismãs, uso as mesmas todos os dias e, se eu esquecer elas, me sinto nua. As jóias Gucci estão em perfeita harmonia comigo. Como você descreveria o seu estilo? O que estou vestindo, hoje, me reflete muito. A partir de uma certa idade, você se torna mais confiante: quando eu tinha 20 anos, eu era "experimental" e muito confusa, isso me fez sentir estressada e me vesti de modo variado e excêntrico, para ganhar a compaixão das pessoas. Alguns anos atrás, eu finalmente comecei a usar o que eu realmente gosto; um estilo entre romântico e boêmio, com bordados, diferentes padrões e estampas.
Imagem: Elle Itália/David Burton
Concertos ao vivo são realmente importantes para você. O quanto significam pra você suas roupas de palco? Muito. No passado, meus looks eram teatrais, peguei pedaços de brilho e lantejoulas de um baú e coloquei aleatoriamente, correndo para cima e para baixo no palco. Com o meu último álbum, a ansiedade da performance diminuiu drasticamente e me senti mais livre. Então, eu decidi vestir no palco o que eu uso todos os dias, na minha vida privada. Eu percebo o estilo fácil e confiante de alguns artistas como Nick Cave, Keith Richards, Alex Turner e, até mesmo, Otis Redding, que tinham uma energia insana no palco. Existe um item que você usa sempre? Um casaco de camurça laranja dos anos 70, que comprei em Dallas, em turnê; Eu amo tanto que se tornou o ditador do meu armário e cada ítem orbita ao redor dele. Então, você não é imprevisível quanto a aparência? Agora sou menos imprevisível, porque aprendi a saber o que me faz sentir confortável. Mas eu também adoro Gucci e seu estilo não é tão previsível ...
Você estudou arte na faculdade: qual tendência artística mais gosta? Eu amo Jenny Holzer e seus Ensaios Inflamatórios, murais em geral, com letras, palavras, frases. Entre os jovens artistas, eu gosto de Stella Vine e Danny Fox e eu adoraria me tornar amigo do Unskilled Worker, que também colaborou com a Gucci. Qual foi a última exposição que você visitou? Eu tentei visitar a exposição de David Hockney, mas estava muito lotada, então voltei pra algumas obras-primas no Tate Britain, como Three Crucifixions Studies, de Francis Bacon. Adoro os pré-rafaelitas, com os quais, muitas vezes, eu tenho me conectado. Toda vez que eu vou ao museu, minha empresária diz: "Você vai visitar seus amigos?" Sua mãe é professora de Estudos do Renascimento. Ela te inspirou? Sim, muito. Passei a maior parte da minha infância com ela, em Florença. Ela me levou para visitar igrejas e capelas de Médici. Ela também escreveu um livro sobre a moda no Renascimento e, mesmo que ela sempre estivesse de preto, ela me passou a paixão pela roupa.
Imagem: Elle Itália/David Burton
Seu Instagram está cheio de citações manuscritas. Por quê? Eu tenho muitos cadernos, cheios de pensamentos e desenhos pessoais. Eu não tweeto muito, mas eu tenho uma visão estética que eu amo compartilhar. Eu não sou tão boa com a tecnologia, nem sei como abrir um arquivo do Word e, se algo acontecer com o meu smartphone, eu entro em pânico. Durante as entrevistas, você parece sorridente e calma, mas suas letras são muito problemáticas. Quem é Florence? Ah, engraçado, ninguém nunca me disse que eu sou "calma". Mas um dos meus livros favoritos é Legend Of a Suicide, de David Vann, uma história sombria e terrível. Conheci o autor, uma vez, e ele parecia uma pessoa pacífica. Eu tinha tendências autodestrutivas, no passado, mas tive sorte, porque a música me salvou; Não sei o que teria acontecido se eu não tivesse música. Mas, sim, talvez haja uma parte otimista em mim, como alguém que ainda é capaz de se surpreender com a vida. Então, a música é sua psicanálise? Sim! Às vezes, as músicas que escrevo são mais sábias do que eu. Eu leio, novamente, após meses, e encontro resoluções razoáveis que eu não tinha pensado, ainda. É como se o meu subconsciente saísse com minhas letras, mais lineares do que a minha vida cotidiana. Como você se prepara para um concerto? Você deve se render à outra parte de si mesmo, no palco. Deixe seu lado racional em modo de espera e deixe o instinto e o impulso te guiarem. Como você se sente quando volta para casa depois de uma turnê? Antigamente, era ruim no passado. Eu ficava tão imersa no álbum que quase não existia mais, e voltar para a vida cotidiana foi um choque. Melhorou com o meu último álbum: quando voltei para casa, fui eletrificada por dois anos de pura adrenalina incessantemente percorrendo meu corpo e não consegui dormir, mas chorei por dias. Mas foi uma coisa pequena em comparação com a minha crise do passado. Como você relaxa? Eu pratiquei a meditação transcendental por três anos e mudou minha vida, é uma ótima terapia para a ansiedade. Muitas vezes, vejo televisão, especialmente documentários de crime e séries como The OA; Eu costumava me sentir culpada, então eu li M Train, por Patti Smith, e descobri que ela também (assiste). Você disse que "o caos é a inspiração". O que isso significa? Esta foi a antiga Florence. Houve um momento em que não consegui me controlar e pensei que a ressaca era uma parte essencial no processo criativo. Mas, então, descobri que posso trabalhar sem ela e a criatividade não é afetada. Você se sente abençoada pelo talento? Na verdade, não. Há coisas que posso fazer, como cantar, mas sou uma trapalhona com muitas outras coisas - principalmente, coisas práticas. Eu tenho que melhorar. Estou, lentamente, fazendo isso.
Imagem: Elle Itália/David Burton (Florence and The Machine Italy Army)