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De super-heróis a Pina Bausch, Florence fala de suas influências e do 'Dance Fever' para o NY Times

A divulgação do quinto álbum da Florence + the Machine continua com força total. É tanta entrevista que fica difícil acompanhar e traduzir tudo, mas aqui está a conversa de Florence Welch com o New York Times. Confira o texto original aqui e nossa tradução exclusiva logo abaixo da imagem.


Stuart C. Wilson/Getty Images



Florence Welch prospera com o terror e ainda quer sentir o seu cheiro


A líder da Florence + the Machine revela o que a deixou motivada para trabalhar no próximo álbum da banda: dança, Drácula e narcisos


Por Phoebe Reilly

3 de maio de 2022, 10:04 a.m. ET


Florence Welch pensou que ficaria feliz quando a pandemia interrompeu os shows. Nos últimos 13 anos, a líder xamânica da banda Florence + the Machine dizia a si mesma ao fim de cada turnê: “Eu vou dar um tempo e sossegar”, mas sempre acabava fazendo novas músicas. E foi exatamente isso o que aconteceu em 2020, levando ao seu quinto álbum, Dance Fever (lançado no dia 13 de maio).


"O álbum todo é uma fábula do tipo ‘cuidado com o que você deseja”, explicou ela pelo telefone de sua casa em Londres, onde passou a quarentena. “O monstro da performance me ouviu: ‘Você não quer mais fazer turnês? Então vai ficar em casa por um ano. Como você se sente agora?”


Sem nada para fazer durante o lockdown, Welch, de 35 anos, sobreviveu com uma dieta constante de filmes assustadores. “O terror era um cataplasma. Eu não conseguiria ver uma comédia romântica ou um filme em que as pessoas estivessem comendo em restaurantes. Eu precisava ver as pessoas perdendo o controle”, explica ela. Consequentemente, Dance Fever (batizado por causa da mania de dança que varreu a Europa após a epidemia de peste bubônica) é um conjunto pungente de canções de rock que aguardam o lançamento.


“Cada álbum é uma reação ao trabalho anterior, e eu estava um pouco de saco cheio do meu clichê, que é exagerar no piano. Senti falta das guitarras”, conta. Metade do álbum foi produzida junto com o líder do Bleachers, Jack Antonoff (Taylor Swift, St. Vincent), que ajudou Welch a refinar o que gostou tanto nos álbuns anterioes. O single cinético e dançante Free tem seu contraponto em Morning Elvis, uma grandiosa confissão sobre o dia em que ela estava com uma ressaca tão grande que perdeu a oportunidade de fazer uma visita a Graceland. (Welch está sóbria desde 2014, mas antes disso, ela disse: “Eu achava que o jeito de afirmar as raízes do rock ‘n’roll era sendo a pessoa mais bêbada do recinto”).


Na sala de estar de casa, cercada pelo que chama de “um cemitério de malas” durante os preparativos para o retorno aos palcos, Welch contou quais são os hobbies culturais e as paixões que contribuíram para sua carreira. Esses são trechos editados da nossa conversa.


1. Pina Bausch. Pina é uma das maiores influências na minha vida, especialmente no meu jeito de agir no palco. Barba Azul foi a última apresentação que vi no Sadler’s Wells em Londres antes de todos os teatros fecharem. A obra de Pina fala comigo de um jeito que é muito difícil expressar em palavras, e acho que esse é o objetivo da dança. Eu consigo ser muito verborrágica. Posso falar, falar e não chegar a lugar algum, enquanto dançar diz respeito puramente à experiência humana.


2. Cabaret. O que faz de Cabaret um dos maiores musicais é o subtexto sombrio de sexo e morte. Um dos primeiros espetáculos teatrais que fui ver quando tudo começou a reabrir foi Cabaret, com Eddie Redmayne e Jessie Buckley, dirigido por Rebecca Frecknall. Eu chorava rios. Senti como se tivesse me reabastecido. Eu amo musicais. Na infância e adolescência, eu não pensava em ser pop star. Eu queria estar na Broadway, mas era uma criança esquisita. Implorei a minha mãe para me matricular em aulas de teatro, mas ela disse não. Eu definitivamente herdei o amor pela música do meu pai.


3. Drácula de Bram Stoker. Eu realmente não era fã de terror. Já tenho pensamentos assustadores suficientes na minha cabeça para não querer levar sustos por diversão. Mas eu tive Covid pouco antes de fazer o ensaio fotográfico pra capa do Dance Fever. Eu fiquei muito mal, então assisti ao Drácula dirigido pelo Coppola, que foi uma grande referência visual para o álbum e os figurinos. O roteiro é meio esquisito, mas de alguma forma isso, somado às atuações exageradas, só aumenta a magia. Houve uma época em que eu estava, na falta de palavra melhor, bebendo todo o conteúdo sobre vampiros que conseguia encontrar.

4. Donlon Books. Essa livraria tem obras incrivelmente raras, estranhas e de nicho, como Wisconsin Death Trip [de Michael Lesy]. Se eu estiver tentando impressionar alguma pessoa a quem considero muito, é para lá que eu a levo. Foi aonde levei Phoebe Bridgers e ela me recomendou a obra de Carmen Maria Machado. Eu me lembro dela pegando Na Casa dos Sonhos e dizendo: “Esse é um dos melhores livros que já li”, Tenho interesse em fazer uma música sobre todos os motivos pelos quais eu não sou uma boa namorada. Phoebe abriu uma página que tinha uma lista bem parecida de defeitos de caráter. Eu falei: “Nossa, isso é a minha cara”. Foi aí que começou minha obsessão com Carmen Maria Machado.


5. Super-heróis. Acho que as pessoas não esperavam isso, mas eu amo coisas de super-heróis. Toda a minha persona no palco é uma mistura da obsessão infantil pela Vampira dos X-Men com um fantasma vitoriano. Acho que não tem um filme de que eu goste mais do que Thor: Ragnarok. Não sou obcecada especificamente pela Marvel ou pela DC, eu assisto de tudo. Admito que nem sempre os filmes são bons, mas tem algo muito interessante no humor que existe nos super-heróis fazendo coisas normais. Nada me satisfaz mais do que alguém de capa discutindo sobre algo totalmente corriqueiro.


6. Sair para tomar um café, fazer uma caminhada e colher flores Eu amo sair de casa, descer a rua e observar a mudança das estações. Foi uma das coisas de que mais senti falta durante a Covid. Agora eu sinto uma gratidão imensa por tomar um café que outra pessoa fez e colher algumas flores. Uma vez meu pai me falou que sua flor favorita era o narciso [“daffodil”, em inglês] e passei a me interessar muito por essas flores. Os narcisos eram usados pelos antigos romanos como remédio para dormir. Ou talvez como veneno, não tenho certeza. Eu fiz a música Daffodil no auge da pandemia e achei que tinha perdido a cabeça de vez porque no refrão sou apenas eu cantando “daffodil”. Tipo, será que preciso pegar mais leve?


7. @poetryisnotaluxury Não sei quem criou esse Instagram, nem quem administra a aconta, mas eu encontrei alguns dos meus poemas favoritos por lá. This Is the Poem I Did Not Write, de Rita Dove. Kitchen/Holidays, de Eileen Myles e Meditations in an Emergency, de Cameron Awkward-Rich. O último verso simplesmente acaba comigo: “Like you, I was born. Like you, I was raised in the institution of dreaming. Hand on my heart. Hand on my stupid heart” [“Como você, eu nasci. Como você, fui criado na instituição do sonhar. Mão no meu coração. Mão no meu coração idiota”, em tradução livre].


8. Suspiria O original e o remake são meus dois filmes de terror favoritos. Eu adoro a dança. Estava ouvindo uma entrevista da Tilda Swinton sobre o filme, e ela usou muitas referências de uma coreógrafa pré-Pina chamada Mary Wigman. Com isso, acabei me interessando bastante pela obra dela, que fez uma coreografia chamada Hexentanz em 1914, que significa “Dança da Bruxa” e é uma referência para o clipe de Heaven is Here.


9. Yellowjackets A série me atrai porque sou fascinada por tudo relacionado a cultos, mas também porque retrata de modo incrível a violência da mudança hormonal que acontece com as garotas. Acho que tem algo muito sanguinário em ser uma jovem mulher. Era isso que eu estava tentando alcançar com uma música como Dream Girl Evil. Pode ser perigoso quando as pessoas pensam que você é incrivelmente boazinha. Ouvir “Você é um anjo” parece um pedestal muito alto, de onde é fácil cair. Quando vejo mulheres complicadas, violentas ou de comportamento terrível, especialmente quando são jovens, o simples fato de não ter que tentar sobreviver sendo boa é libertador.


10. Bar de aromas Eu e a banda inteira não fazemos mais festas. Preferimos frequentar bares de aromas. Estranhamente, [o músico e cineasta] Adam Green é o maior dos fragheads. Esse é o termo técnico usado pela comunidade apreciadora de fragrâncias. Ele tinha um cheiro ótimo e abriu as portas para nós. Quando tive Covid, morri de medo de perder o olfato. Eu acordei um dia e sabia que havia algo errado. Tenho uma grande coleção de perfumes e não conseguia sentir o cheiro de nada. Eu chorava e passava perfume às três da manhã. Quando contei isso aos meus amigos, eles disseram: “Ué, isso é não é uma noite normal para você?”


Todos os direitos desta tradução estão reservados para o Site Florence Brasil.


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