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Leia a primeira parte traduzida da entrevista de Florence para a Rádio BBC 1


Florence Welch em entrevista para a BBC Radio 1

Nesta quinta-feira (03), foi ao ar pela Rádio BBC 1 a primeira entrevista de Florence Welch para a promoção de seu quarto álbum junto à máquina, intitulado High As Hope. A conversa foi disponibilizada no canal do YouTube da emissora, dividida em três partes. Abaixo, confira a tradução da primeira:

Annie Mac: Florence, oi.

Florence: Oi.

Annie: Oi, oi, oi. Estou tão feliz em te ver. Estou muito feliz por você ter voltado. Temos muito o que conversar. Vamos começar pela última vez que o público em geral te viu, que foi em Glastonbury, em 2015.

Florence: Hmm.

Annie: Em primeiro lugar, como foi entrar naquele palco?

Florence: Acho que eu estava realmente feliz por conseguir andar. Porque quebrei o pé, mas já tinha melhorado. Foi uma loucura, a gente estava ensaiando à beça e eu não conseguia dormir, simplesmente parei de dormir. Mas quando chegou na hora, eu e a banda ficamos realmente empolgados. E logo antes de entrar bateu um sentimento realmente esquisito de “Isso é importante.” Foi tão surreal. Porque quando você sobe lá, tem gente até onde a vista alcança. Parece um exercito invasor, mas um exército de hippies e bandeiras, e... Sei lá, eu realmente tive que me entregar ao seja lá o que for que toma conta das apresentações pra mim e acreditar que não sou realmente eu lá, então tive um insight e pensei “certo, você dá conta.” Não sabia o que ia acontecer, mas quando estava lá senti uma conexão incrível com aquela multidão. Nunca senti nada igual, acho que é porque fomos uma substituição de última hora. Foi muito doido porque o Dave Grohl quebrou a perna e meu pé tinha acabado de melhorar. Então foi um monte de corações e ossos partidos que levou àquele show. Mas tivemos tanto apoio daquela plateia. Sei lá, Glastonbury é maior que você, que a sua banda, que um indivíduo: é uma entidade em si. E se você não se esforçar muito para estragar a vida dos outros, as pessoas vão ter a própria experiência, independente do que você faça.

Annie: Sim, sim, sim.

Florence: Então você está lá para ser um canal, mas eu tento fazer parte de tudo.

Annie: Você assistiu ao show de novo?

Florence: É difícil porque o jeito que você se sente quando está lá e a vista de lá do palco... Olha, já aconteceram algumas coisas alucinógenas na minha vida, como você deve imaginar, mas aquilo foi a maior viagem que já tive, sabe? Quando saí do palco, eu tinha tirado a blusa e estava de sutiã, então chorei e precisei... Geralmente as pessoas bebem alguma coisa pra se acalmar, mas eu era nova nisso de não beber, tinha acabado de me apresentar em Glastonbury e tive que fazer um abraço coletivo com a banda. Eu tremia e dizia “PRECISO DE UM POUCO DE VODCA” e eles responderam com “não, acho que não. Você fez um ótimo trabalho. Você está indo tão bem, talvez seja melhor não beber.” E eu “TÁ BOM!” Aí a gente desceu e eu e a Isa fomos DJs no parque. Então fizemos outro show como atrações principais.

Annie: Eu estava lá, dançando. Adorei.

Florence: Foi divertido! E acabei andando a noite inteira. Acho que bati o recorde de “high-fives.” As pessoas foram muito amáveis comigo depois do show. Eu me lembro de sair porque não gosto de ficar nos bastidores. Frequento Glastonbury há um bom tempo, então sempre gosto de me misturar. Eu me lembro de andar por lá e conversar com as pessoas. Encontrei um cara que falou “Ai, meu Deus, eu preciso ir pra casa e mudar a minha vida depois disso!” Nós dois estávamos cobertos de purpurina e foi uma experiência incrível. Não acredito que aconteceu. Nunca pensei que... Na minha cabeça, quando era adolescente eu fiz uma listinha dos shows que gostaria de fazer. Um deles era ser a atração principal na Brixton Academy, que consegui, e acho que a outra era ser headliner no Pyramid Stage. Achava que essa era a mais difícil, eu pensava que nunca ia acontecer e tinha me conformado. Aí aconteceu e meio que não acredito até hoje.

Annie: Isso foi há quase três anos.

Florence: Sim.

Annie: E agora você voltou com um novo álbum, isso é muito empolgante. Você pode falar pra gente como é o nome do álbum?

Florence: O álbum se chama “High as Hope” (Alto como a Esperança, em tradução livre).

Annie: Tenho tantas perguntas pra fazer sobre esse álbum, mas vamos voltar pra Glastonbury e a gente continua a partir daí. Como foi o período até começar o novo projeto?

Florence: Eu comecei a compor no final da turnê norte-americana, estávamos em Nova York. Tem uma sensação específica quando estamos fazendo turnê com um álbum por um ano. Você começa a meio que se quebrar um pouco, e nem é de um jeito ruim. Acho que sou uma pessoa cuja ligação com a realidade é tênue, na melhor das hipóteses, então quando me apresento o tempo todo, começo a ficar tão aberta. Sei lá, teve alguma coisa em alguns desses dias, na última turnê, em Nova York, em que tudo começou a ganhar importância. Como eu estava naquele estado mental, esses dias ficaram cristalizados e comecei a compor quando voltei pra casa. Então o final de HBHBHB gerou o começo do próximo álbum. O que é interessante porque nunca soube me acalmar depois de uma turnê, então eu simplesmente bebia direto e isso me acalmava. Porque você não fica cansada quando termina a turnê. A adrenalina está tão alta...

Annie: Você está com a adrenalina a mil!

Florence: E eu não estava fazendo isso de beber, então voltei direito pro estúdio. Isso me deu liberdade criativa porque ninguém esperava que eu voltasse trabalhar naquele momento. Meu engenheiro me olhou e disse: “O que você tá fazendo aqui? Não vai tirar férias?” E eu: “Não, eu já viajei demais, agora quero ficar em casa.” Talvez tenha sido por causa da falta de expectativas. Eu sabia que estava fazendo isso só pra mim, sabe? Realmente me senti voltando ao jeito que eu comecei a fazer música, só por diversão, só porque eu gosto de criar sem pensar no que ia acontecer, em estrutura ou que precisava ser de um determinado jeito. A primeira música que fiz foi “June”, que é a faixa-título desse álbum. Só o fato de sentar lá e sentir algo, eu tive a mesma empolgação de quando fiz “Dog Days”, porque é o som de alguém que literalmente não tem ideia do que está fazendo. E essa música meio que abriu o resto do álbum.

Annie: Uau, então você pegou embalo a partir daí, ficou em Londres e...

Florence: Sim, eu gravei a demo em Peckham, pertinho de casa, no sul de Londres, onde cresci. Então eu ia de bicicleta pro estúdio. Eu trabalho em períodos muito curtos e intensos. Não sou o tipo de pessoa que fica de bobeira no estúdio. Preciso trabalhar bem rápido e muito intensamente. Eu sou assim mesmo: “Uau, ela não trabalha de modo relaxado e casual, que surpresa.” Tenho um engenheiro maravilhoso e muito, muito paciente, chamado Brett Shaw. Ele também fez um pouco de produção nesse álbum, que eu acabei coproduzindo com Emile Haynie. Não era o estúdio mais caro, não tinha tanta coisa, mas me deu a liberdade de experimentar e criar o que realmente é o meu som, apenas eu e um engenheiro. Eu fiquei batucando nas paredes e tocando piano muito mal, mas consigo me virar e foi assim que muitas músicas desse álbum começaram. “June”, “100 Years”, “South London Forever”, “Patricia”... Todas começaram nesse clima e o incrível com Emile é que ele não gosta muito de mexer nas demos. O som delas já estava tão pronto quando as mostrei que ele disse: “ah, não precisamos mudar tanto assim.” É claro que conseguimos Kamasi Washinton pra fazer umas instrumentações incríveis e Emile é muito bom com a beleza orquestral. Se tiver alguma coisa que soa alto e fora do tempo, provavelmente sou eu e se tiver cordas lindas e sons elegantes, geralmente é o Emile. Eu sou a pessoa que está batucando e destruindo tudo.

Annie: Mas é bom que você se deu o crédito de coprodutora porque, como você disse, é o seu som. Sempre foi o seu som, certo?

Florence: Sim, é engraçado que quando você é mais nova, você pensa “Ah, ele é o produtor”, mas eu sempre meio que coproduzi, só não sabia que podia pedir o título. Eu falava: “Ah, eu sou a artista, ele é o produtor”, e também acho que precisava de muito mais orientação talvez não tanto musicalmente, mas porque eu era um pesadelo.

Annie: Como assim você era um pesadelo?

Florence: Ah, eu aparecia de ressaca o tempo todo ou simplesmente não aparecia. Ou aparecia no dia errado, chorando. “Cadê você?” “Ah, eu tô no zoológico.” “Por quê? São 11 da manhã, você devia estar no estúdio!” “Sim, mas eu tô no zoológico de Londres, não estou em outro lugar... Posso tirar uma foto com o camelo pra mostrar.”

Annie: (rindo)

Florence: Isso aconteceu com o Paul Epworth, eu devo desculpas a ele, inclusive.

Annie: Manda pra ele uma foto sua com um vombate no zoológico de Londres!

Florence: “Eu sei que precisava estar no estúdio, mas acabei parando aqui...” Eu sempre estava em um período tão caótico da vida que o produtor precisava... A parte da música eu conseguia fazer, mas eles precisavam me gerenciar durante o processo. E era... ARGH. Uma vez eu apareci no estúdio do James Ford, tropecei, caí em uma porta de vidro, quebrou tudo...

Annie: “A Florence chegou!... PLOFT... ‘Oi pessoal!’”

Florence: Foi assim: “Olha, eu preciso ir ao hospital, tipo imediatamente.”

Annie: Estou muito interessada nisso porque agora, pelo que você falou, parece que você compôs o álbum em um período de relativa calma.

Florence: De várias formas [o produtor], Markus Dravs me deu estrutura. Eu estava tão vulnerável naquela época. E ele, como a pessoa incrível que é, disse: “Você vai chegar aqui às 11h e vamos terminar às 18h.” Naquele momento da vida eu precisava de estrutura e rotina e o álbum foi tão doloroso de fazer... Ele salvou minha vida, mas cada parte dele foi como se tivesse sido arrancada de mim. Acho que o “How Big How Blue How Beautiful” me curou tanto e as pessoas foram tão gentis... Fazer a turnê desse álbum quase me trouxe de volta a mim mesma. Eu cresci um pouco enquanto fazia o HBHBHB, que me ensinou muito sobre mim, então quando fui fazer esse novo álbum, eu estava muito melhor e voltei a sentir aquela alegria ao fazer música. Além de descobrir que a criatividade era algo tão fácil e eu nunca soube disso.

Annie: Que interessante. Tem todo um mito, não é?

Florence: Sim, mas é meio que uma armadilha às vezes porque eu acreditei 100% nesse mito quando era mais nova, especialmente crescendo em South London e com as bandas que eu ouvia, era tipo...

Annie: Hedonismo era igual à criatividade.

Florence: Sim, isso era a criatividade e eu criei a minha armadilha porque compus “Cosmic Love” na pior ressaca da minha vida e pensei “Ah, foi por causa dessa ressaca mágica! Deve ser mágico isso! Preciso ficar assim o tempo todo!” Então pra mim foi importantíssimo parar e perceber que na verdade a criatividade fica melhor e seja qual for o canal que se abra ou o que acontece quando você faz música, pois às vezes parece que algo está trabalhando através de você em vez de ser você, isso fica muito mais claro. Então esse álbum fluiu e eu gostei muito de fazer.

Annie: Uau, que sonho!

Assista à primeira parte da entrevista:

Em breve, tradução da segunda parte.

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