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Leia a terceira parte traduzida da entrevista de Florence para a BBC Rádio 1


Florence Welch, em entrevista para a BBC Rádio 1

Na última quinta-feira (03), foi ao ar pela Rádio BBC 1 a primeira entrevista de Florence Welch para a promoção de seu quarto álbum junto à máquina, intitulado High As Hope. A conversa foi disponibilizada no canal do YouTube da emissora, dividida em três partes. A segunda pode ser lida aqui.

Abaixo, confira a tradução da terceira:

Annie Mac: Florence + the Machine fez dez anos em 2018. Pra essa entrevista eu estava pensando nas vezes em que vi você ao longo desses dez anos. Aí eu me lembrei de Ibiza, da primeira vez que você se apresentou em Ibiza.

Florence: (rindo) Eu estava lembrando isso outro dia!

Annie Mac: Você cantou “You’ve Got the Love” com purpurina no rosto...

Florence: Eu fui expulsa da [boate] Space! (rindo)

Annie Mac: (rindo): Eu me lembro de um sapato perdido...

Florence: Eu despejei bebida na cabeça de alguém e fui expulsa da Space. (rindo)

Annie Mac: Eu me lembro do copo no chão, você dançando em cima da mesa... É tudo um grande borrão.

Florence: Mas os meus sapatos foram parar na capa da MixMag!

Annie: (risos) Eu amei isso!

Florence: Um ano depois, eu não sei o que aconteceu, mas alguém da Space disse: “Eu tenho os sapatos da Florence + The Machine.”

Annie: Sensacional. Existem momentos que ficam marcados na sua lembrança pra sempre?

Florence: Obviamente, agora que você perguntou, eu não consigo lembrar nenhum!

Annie: Pra mim um desses foi o Coachella. Eu fui àquele show do Coachella e me lembro de ter descoberto depois que você quebrou o pé!

Florence: Pois é.

Annie: Como você conseguiu isso? Eu nem notei! E você continuou cantando!

Florence: E foi nosso primeiro grande show daquele álbum. Quebrei o pé no primeiro show (rindo). Mas foi muito especial porque lá em cima a gente pensou que estava indo muito mal (rindo).

Annie: Uau. Eu não sabia...

Florence: Porque no Coachella a gente fica muito longe da plateia...

Annie: Sim.

Florence: Então é muito difícil ter noção.

Annie: E se conectar!

Florence: Isso só aumentou a ferocidade da apresentação porque pensei: “Isso está horrível. Estamos indo muito mal, então é melhor eu ir com tudo.” Aí eu falei: “Todo mundo, tirem algo, tirem a blusa!” E pensei: “Será que eu tiro também? Vou tirar!” Foi quando eu me dei conta que estava ali de sutiã em frente a milhares de pessoas.

Annie: (rindo).

Florence: Aí eu pensei “O que eu tô fazendo?” Eu venho pulando de palcos há muito tempo sem problemas, mas ali foi “Ai, meu Deus, preciso sair desse palco, tô aqui de sutiã e todo mundo tá me vendo!” Então eu me joguei de lá bem rápido e sabia que tinha acontecido alguma coisa ali.

Annie: Você notou.

Florence: Na mesma hora eu pensei: “Tem algo errado”, mas precisava terminar a música, que é bem agitada, então eu dei uma volta...

Annie: Você estava voando de um lado pro outro do palco!

Florence: Fui até a multidão, correndo por aí com o pé quebrado. Aí eu saí do palco pelo lado errado e um segurança me encontrou atrás de uma caixa de som, chorando, com a blusa na mão, dizendo (faz voz chorosa) “Eu fiz alguma coisa errada” e aí a gente descobriu que eu tinha quebrado o pé e fiquei muito arrasada. E precisei fazer todo aquele início da campanha promocional, todos os shows e programas como Saturday Night Live...

Annie: O [festival] Radio 1 Big Weekend...

Florence: O Radio 1 Big Weekend. Mas estranhamente acabou sendo bom.

Annie: Sim!

Florence: Eu precisei ficar sentada e apresentar as músicas de outra forma. Acho que foi uma boa lição.

Annie: Eu me lembro de uma lista de 10 mandamentos pendurada na parede do seu estúdio.

Florence: Ai, meu Deus, os Mandamentos da Florence!

Annie: Os Mandamentos da Florence!

Florence: Estranhamente, um deles era “Aprecie os seus pés”!

Annie: Exatamente isso que eu ia falar!

Florence: O que é muito esquisito, porque acabei quebrando o pé. Mas eu já tinha machucado o pé quando era adolescente.

Annie: Sério?

Florence: É. Machuquei bastante. Fiquei assim uns seis meses quando era adolescente, mas não falei pra ninguém. Não deixei ninguém saber que eu estava sofrendo. Acho que se você tem esse temperamento... “Hunger” é um pouco sobre isso. É uma música sobre tentar mostrar que você está sofrendo sem precisar dizer que está sofrendo.

Annie: Sei.

Florence: Aí um dia alguém viu e falou “Você está mancando, o que houve?” Então o “Aprecie os seus pés” veio daí. Inclusive acho que foi esse mesmo pé que eu quebrei, não sei o que há de errado com esse lado do meu corpo. (risos)

Annie: (risos)

Florence: Foi uma época na minha vida eu que estava escondendo muita coisa, sabe? Tentando encontrar meios de gerenciar o meu desconforto interno. Então sentir essa dor física fez sentido porque eu estava sentindo muita dor emocional também. “Hunger” faz essa pergunta de “O que você está procurando?” e talvez não haja resposta, mas ao expressar isso uns para os outros talvez haja alguma espécie de cura, sabe? Não sei se existe uma resposta, mas tem algo em cantar com uma multidão e estar juntos...

Annie: Admitir isso!

Florence: Exato! Meio que libera tudo isso.

Annie: Sim, sim. O que você diria hoje para você mesma aos 17 anos?

Florence: (rindo) “Larga essa bebida e vai comer um sanduíche!”

Annie: (rindo) “E vai cuidar desse pé!”

Florence: “É, e fala com alguém sobre o pé!” O que eu diria? Não sei. Provavelmente eu me daria um abraço porque parece o melhor a fazer. Acho que muita coisa vem do quanto você é dura consigo mesma, sabe? Eu me odiava tanto e era tão dura comigo mesma quando era mais nova... Ficava desesperada para fazer tudo certo e ser perfeita. Eu queria me dar um abraço e dizer: “Não precisa se esforçar tanto, vai ficar tudo bem” ou: “Está tudo bem em ser você mesma, sabe? Não tem problema algum em ser como você é. Não precisa lutar pra ser perfeita, especial ou para obter amor. Basta ser você mesma, está tudo bem”. Além disso, entender que não posso ficar com raiva daquela menina, sabe? Ela provavelmente precisa de um abraço.

Annie: É. Eu li sobre algo que a sua mãe te disse e te deu um grande alívio, sobre ser normal.

Florence: O que ela disse?

Annie: Ela disse: “Você é normal, só tem essas coisas acontecendo na sua vida.” (rindo) O que é uma coisa muito mãe pra se dizer!

Florence: (rindo) Ela dizia: “Você não é doida, só tem uma vida esquisita. Você é bem normal, só faz coisas esquisitas.” Mas talvez por ter essa vida criativa, eu desejo muito essa normalidade e domesticidade. É muito importante cozinhar pra mim, cuidar de mim, ter espaço pra ler, escrever, ver muita televisão (rindo). Pra mim, a normalidade e a estrutura são fundamentais e tento encontrar um jeito de proteger isso desse turbilhão todo.

Annie: “No Choirs”, a última música do álbum. Eu amei. Amei o sentimento, a ideia de que a felicidade não precisa ser estrondosa e barulhenta, ela pode ser tranquila.

Florence: Sim! Acho que é isso que...

Annie: E meio entediante! (risos)

Florence: Estrelas do rock entediantes! (risos)

Annie: Sim!

Florence: Tipo (faz ruído dramático) “São 22h, é melhor eu ir dormir.” Os últimos anos definitivamente foram de descoberta que não eram... Porque fazer shows enormes é incrível e o que eu sonhava fazer quando criança, mas entre um show e outro não havia muita paz. Eram muitos altos e muitos baixos, não havia meio-termo. Eu vivi assim por muito tempo e achava que era assim: “Ah, eu sou oito ou oitenta, nunca vai haver um meio-termo,” mas descobri através de... Novamente, coisas de estrela do rock entediante, como: cuidar de mim, meditação, lidar com as merdas que faço (risos), reconhecer meus problemas e lidar com eles de um jeito amoroso (risos), além de enfrentar as coisas e abrir mão, sabe? Abrir mão dos meus aspectos mais controladores. Mas é abrindo mão do controle que você descobre que fica mais confortável consigo mesma. Nesses últimos anos fiz muito isso de abrir mão e a felicidade não estava nos enormes... Quer dizer, a felicidade que você sente ao fazer algo como Glastonbury eu nem sei se posso chamar de felicidade, parece o efeito de uma droga. Você pensa: “Uma hora isso vai acabar.” Sabe? É tão intenso.

Annie: Assustadoramente intenso, eu imagino!

Florence: Sim, e ao fazer outros shows também, mas os momentos em que você fica sentada no sofá com alguém de quem você gosta vendo televisão. É isso. A vida é assim, sabe? A vida não está nas coisas imensas, e sim nas pequenas coisas. Aprender a viver no presente e apreciar as pequenas coisas. Pra mim, agora é muito importante ter uma vida entre essas coisas grandes. E quanto mais você cuida de si mesma, aprende a cuidar dos outros e olha pra fora de si, mais você aprecia as pequenas coisas. E eu encontrei muita felicidade nisso, nos últimos anos.

Annie: Florence, muito obrigada!

Florence: (rindo) Eu é que agradeço!

Assista à terceira parte da entrevista:

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