A editora Crown Publishing Group divulgou no YouTube uma entrevista em que Florence fala sobre o livro Useless Magic, seu processo criativo, a oportunidade que ela teve de rever a própria obra e os artistas que a influenciaram. Assista ao vídeo original aqui e confira nossa tradução abaixo. Todos os direitos desta tradução estão reservados ao Site Florence Brasil.
"Na minha carreira, a parte visual e a música andam juntas". Imagem: Reprodução do YouTube
Por que o livro se chama Useless Magic (Mágica Inútil, em tradução livre)?
Florence: Às vezes as canções podem ser incrivelmente proféticas. É quase como se o subconsciente estivesse tentando dizer algo, mas eu não percebo o que era ou então escolho não ouvir. A canção às vezes é bem clara ao dizer o que eu devo fazer e bem clara em relação a uma ideia que ela tem sobre o mundo, mas ela sempre vem de um lugar que eu não entendo. Frequentemente eu não ouço a mensagem na vida real ou simplesmente escolho ignorá-la. Então é meio que um superpoder inútil porque você é capaz de prever o futuro ou entender algo bem profundo a seu respeito ou conseguir ver com exatidão a resposta certa na canção, mas na vida eu não faço ideia do que estou fazendo. (risos)
As letras, poemas e obras de arte estão reunidas de um jeito muito bonito no livro. Você pode explicar como tudo isso funciona em conjunto?
Florence: O Useless Magic tem letras de música, poemas, ilustrações. Em termos do que já fiz na minha carreira, a parte visual e a música andam juntas. Nunca pensei nelas separadamente. As pessoas perguntam “São álbuns conceituais?” Não era bem um conceito. Estava mais para seguir uma ideia o mais longe possível. Então se tinha interesse nos pré-rafaelitas, eu ficava superinteressada e isso influenciava a música, a capa do álbum, os shows... Talvez por ter feito faculdade de Belas Artes, eu nunca vi essas partes como separadas. Para mim era um mundo que precisava ser bastante coeso e tudo deveria estar relacionado. Em termos de letras de música e poesias, acho que até agora eu era um pouco insegura em relação às letras porque achava que ao cantar algo você podia dar uma qualidade mágica que não teria por escrito. As letras nunca tinham sido publicadas em lugar algum porque eu achei que elas perderiam algo ao serem registradas no papel. Também era uma insegurança da minha parte, eu achava que elas não eram boas o bastante, mas na verdade eu me senti bem ao colocá-las no livro. Muitas letras, especialmente desse último álbum, High as Hope, na verdade eram poemas que eu estava escrevendo. Então acho que minha confiança como escritora ou talvez o fato de estar escrevendo mais tenha me levado finalmente a fazer um livro. Também é muito bom olhar para trás, analisar seu trabalho e perceber que os mesmos temas sempre te atormentaram. É meio que bom e ruim ao mesmo tempo, porque é “ah, você sempre foi obcecada pela ideia de cair, por anjos ou pela transcendência.” Até quando eu era mais nova e compunha canções aos 19 anos eram os mesmos temas, o que é reconfortante. Por outro lado, talvez eu precise me controlar. um pouco Mas é estranhamente reconfortante ver que você sempre teve fixação pelas mesmas coisas.
Algum artista específico inspirou você?
Florence: Eu estava falando com o Tom Beard, que conheci quando ele tinha 17 anos. Ele fotografou todas as capas dos meus álbuns. Nós ficamos obcecados por determinados grupos de artistas e gostamos de explorar isso. Era como na faculdade de Belas Artes, sabe? Nós dois largamos a faculdade, mas encontramos um jeito de continuar aprendendo sobre artistas e explorar isso nas capas dos álbuns. Com o primeiro álbum foram os pré-rafaelitas. No segundo, foram erté, Klimt, Tamara de Lempicka. No terceiro álbum, estávamos vendo a obra de James Turrell e fomos ao anfiteatro feito por ele no México, em cima do cenote. Então ainda estamos tentando aprender. Eu amava a faculdade de Belas Artes, que larguei para me concentrar na música, e o Tom para ser fotógrafo e cineasta, mas acho que juntos a ainda conseguimos continuar a nossa educação artística. Para este álbum, ele me mostrou um livro de fotos da Francesca Woodman e a gente meio que desenvolveu a arte do álbum a partir daí. Eu aprendi muito fazendo as capas dos álbuns.
Você gostou de criar o livro?
Florence: Foi mais fácil fazer um livro bem grande porque tem um monte de músicas! (risos) Também gostei de reunir o trabalho e ver que tudo sempre esteve relacionado. Os álbuns não são discrepantes, os temas são bem similares e isso é bom porque você solidifica a própria identidade ao olhar para o seu trabalho e dizer: “ah, sempre estive no mesmo tipo de caminho. Muda um pouco, mas estou sempre procurando a mesma coisa.” Foi agradável olhar meus cadernos e também rever algumas letras de músicas antigas, achei bem interessante. E também ver como as músicas mudaram um pouco. Quando eu era mais nova, eram mais esses contos de fada míticos e em algum momento ficou mais real, até ver a evolução de tudo isso na poesia. A poesia é meio que uma exploração ainda mais profunda do que considero a minha voz, sabe? Quando você está compondo uma canção é meio que outro personagem, quase como se você estivesse falando em línguas. Você está canalizando algo. Mas tentar descobrir como seria a minha voz apenas no papel foi uma exploração interessante. Fica muito verdadeiro, nossa (risos). É meio fascinante sair das músicas e passar a ser escritora. E ver que a escritora influencia a compositora, então tudo acaba sendo um círculo.
Há quanto tempo você escreve e desenha em cadernos e como isso ajuda você criativamente?
Florence: Eu ganhei um caderno de papelão com oito anos de idade, foi presente de Natal. Era feito de material reciclado, o que me deixou muito orgulhosa. Eu me lembro de escrever um poema sobre reciclagem nele. Mas eu sempre escrevi poeminhas. Antes de compor músicas eu me lembro de escrever poeminhas estranhos com pequenos desenhos. Um deles era sobre encontrar um urso polar que come você (risos). Tinha uma fixação por um destino terrível e ser comida por um urso aos oito anos. Nessa idade eu já tinha uma profunda sensação de culpa, não sei por quê (risos). Também me lembro de escrever nos livros escolares e da biblioteca da escola. Levei muita bronca na escola por escrever poeminhas e letras de música nos livros da biblioteca. Estranhamente, antes mesmo de ter um namorado, porque nunca tive namorado na escola, eu compus uma canção sobre um término de namoro trágico (risos). Mas eu nem tinha vivido isso. E mesmo quando estava bebendo muito e tentando compor o Lungs, eu perdia tudo, mas nunca perdi esse caderno. Eu passei a escrever em folhas quadriculadas porque as linhas me davam a impressão que o texto tinha que ser obrigatoriamente bom. Passei a escrever em papel quadriculado porque isso libertava a minha mente e meio que me livrou do perfeccionismo. Eu lembro que passava a noite inteira fora de casa e perdia todo o resto, mas sempre voltava agarrada a esse caderno amassado, que tenho até hoje! Então sim, eu sempre tive cadernos. Acho que eles são os objetos mais preciosos que tenho na vida.
Na tela: "Disponível agora: Useless Magic, uma impressionante coleção ilustrada de letras, obras de arte, anotações, além de poemas e desenhos inéditos de Florence Welch."
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