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"A culpa cristã influenciou a minha música," Florence fala sobre "Moderation" co


Nesta quinta-feira, 24 de janeiro, foi o lançamento oficial do novo EP da Florence + the Machine, chamado Moderation, com a música-título e um "lado B" chamado Haunted House. Para marcar o lançamento, Florence deu uma entrevista ao locutor Zane Lowe na rádio online Beats 1. Ouça a entrevista original aqui e confira nossa tradução exclusiva abaixo da imagem.

Capa do EP Moderation, que você pode ouvir aqui. Fonte: Instagram da Florence.

Florence Welch: Oi, Zane. Como você está?

Zane Lowe: Florence, é tão bom falar contigo. Estou ótimo, e você?

Florence: Eu estou bem, estou bem.

Zane: Maravilha. Que início de ano com novas músicas suas! Você nos abençoou, Flo. Nós adoramos o novo trabalho.

Florence: Obrigada!

Zane: Essa música é muito especial. Esse projeto se chama Moderation. Pelo que entendi, você conviveu com essas músicas por um tempinho e decidiu lançar agora, é isso mesmo?

Florence: Sim, Moderation e Haunted House. Moderation foi composta na época do High As Hope. Foi uma dessas músicas instantâneas, mas ela não se encaixava nos temas do álbum porque eu sabia que não estava fazendo um álbum sobre um relacionamento. Na verdade, a música era sobre minhas frustrações, talvez comigo mesma e em relação ao amor e eu sabia que não queria falar disso no High As Hope. Naquela altura eu falei “Não, eu sei que esse álbum não é sobre estar frustrada com outra pessoa”, como dá para deduzir que é o tema de Moderation.

Zane: Mas a gente sabe que sempre que você fala de outra pessoa, Flo, na verdade está falando de você. (rindo)

Florence: Sim, sim, é sempre sobre mim. (rindo) Mas eu senti que as outras músicas do High As Hope não falavam exatamente disso e essa música não se encaixava na jornada do álbum em termos do tema, mas era uma boa e eu realmente queria muito cantá-la ao vivo. Então eu decidi lançá-la depois, já que não existem mais regras (rindo).

Zane: Essa ficha caiu pra você agora, Flo? De que agora não existem mais regras e as regras não se aplicam mais a você?

Florence: As coisas estão em um ritmo mais rápido agora. Para o bem ou para mal, foi o que o streaming fez. Mas isso te dá uma liberdade, porque se você tem uma música de que gosta, você pode lançar na hora. Ninguém se importa se ela foi lançada muito perto de um álbum (rindo) porque não existe mais isso de "lançar perto de um álbum." (rindo)

Zane: Com esse projeto agora no início do ano e você tendo vários festivais em 2019 e muita diversão pela frente, tenho a impressão que teremos uma nova era para Florence. Porque se você tem músicas novas, então vamos nessa, não é isso?

Florence: Bom, eu e a banda ainda estamos fazendo muitos shows esse ano e ter novas músicas para adicionar à setlist é incrível pra gente, como músicos. Fazer turnê demora, leva um ano e meio e você acaba tocando muito as mesmas músicas. Por isso, é legal continuar lançando novas canções pra adicionar à setlist e eu quero muito cantar essa ao vivo. Sempre tive na cabeça a ideia de apresentá-la ao vivo. Acho que tematicamente eu estava pensando na minha atitude em relação à moderação e como eu nunca consegui tê-la. Até musicalmente, as pessoas me zoam sempre que eu falo que vou fazer algo mais simples...

Zane: (interrompendo) Mas você sempre fala isso!

Florence: (falando por cima dele) Não falo, não! (rindo)

Zane: Você sempre fala “Da próxima vez eu vou fazer um álbum mais simples” e é engraçado que na lista de perguntas que estava na minha cabeça pra te fazer hoje, uma delas era “Florence, quando nós teremos esse tão comentado e esperado álbum mais simples da Florence + the Machine?”

Florence: Ai, meu Deus, eu sei. Esse álbum [High As Hope] eu senti que foi relativamente mais simples e despojado.

Zane: Sim, comparado com os anteriores, esse álbum foi praticamente acústico! Mas ainda assim...

Florence: (rindo) Eu sei. Mas eu estava brincando com essa ideia do que as pessoas pensam de mim: “Eu pareço uma pessoa moderada para você? Você quer que eu seja moderada?”

Zane: (rindo)

Florence: E eu achei isso engraçado. (rindo)

Zane: Sobre apresentar Moderation ao vivo, eu sinto que você pode cantá-la depois de umas duas ou três músicas. Eu a vejo surgindo no meio do show e dando aquele gás extra para mais um ano de turnê.

Florence: Sim, essa música pede pra ser apresentada ao vivo. É engraçado porque a música em si fala de procurar alguém e ficar magoada porque a pessoa não pode dar o que você quer, mas o refrão veio de uma lembrança de infância que eu tive por vários anos, de levar bronca na igreja. Eu me lembro de um professor que ficou furioso comigo. Infelizmente, esses momentos humanos às vezes influenciam a sua visão de mundo quando você é uma criança, mesmo que a pessoa seja apenas humana. Na época eu pensei: “Tem um Deus lá em cima que está superbravo comigo e sempre pode me ver. Eu definitivamente estou fazendo algo errado o tempo inteiro.” Pra ser sincera, sinto que essa ideia estranha de culpa influenciou boa parte da música que faço (rindo), mas nas apresentações e na composição eu realmente gosto de incorporar o que me dava medo quando criança. Gosto de incorporar aquela voz. É quase como um exorcismo, de tentar se transformar e exorcizar as coisas que te assustam. Então no refrão sou basicamente eu cantando pra mim mesma com aquela voz assustadora que ouvia quando criança, dizendo que mesmo se você conseguir isso que tanto quer e deseja, esse amor, ele nunca será o bastante e você nem sabe o que é isso e provavelmente vai rejeitá-lo quando encontrar, que é um dos meus maiores medos. As pessoas me dizem: “Ah, quando você tiver um relacionamento calmo e tranquilo, vai largar na hora!”

Zane: Para isso que serve a música, não é? Para tentar resolver essas questões e definir o próximo passo da jornada.

Florence: Sim. E tem essa sensação de me criticar por ser “excessiva”, sabe? É algo que sempre me preocupou. Ser excessiva, meus sentimentos serem grandes demais.

Zane: Mas como você pode ter esse diálogo interno quando ao mesmo tempo todo mundo está te aplaudindo? Cem mil pessoas por noite dizendo pra você ir com tudo! Então...

Florence: (rindo) É engraçado, não é? Você está cantando sobre os seus maiores medos, mas essa é a beleza do High As Hope e a beleza de fazer música para mim porque consigo subir no palco e falar do que eu tenho mais medo, sobre o que me magoou, sobre as minhas dificuldades. Fazer isso é uma libertação imensa. Nesse sentido, quero ver o que vai acontecer com essa música ao vivo, porque às vezes a música tem personalidade própria e toma conta de você no palco.

Zane: O potencial dessa energia recém-descoberta e desse desejo de seguir em frente também pode abrir o caminho pra novas colaborações porque eu sinto que você está indo nessa direção. Sinto que estamos a um projeto ou a uma música de ver algo completamente diferente de tudo o que você já fez. Então pergunto: isso está na sua cabeça?

Florence: Acho que sim. Eu definitivamente venho pensando... Eu amo dance music e musica eletrônica. Não sei se faria um álbum dance, mas fiquei interessada nos sons de sintetizadores antigos. Estou vendo pessoas que fazem álbuns dance interessantes e pensando se posso experimentar com elementos de música eletrônica em algum momento. O bom é que depois que você lança um álbum, hoje em dia estamos em um momento muito aberto em que você pode fazer tudo. Eu sempre gostei disso. Mas, sim, o próximo álbum vai ser realmente simples e minimalista...

Zane: (gargalhando)

Florence: Você ouviu de mim. (rindo) Estou falando, vai ser techno minimalista. (rindo)

Zane: Você está empolgada e com esperança para 2019? Quer dizer, além de ser artista e ter vários shows pela frente como headliner de vários grandes festivais, você tem esperança no próximo ano?

Florence: Eu tenho. Os shows dessa turnê estão sendo muito importantes e especiais. Não sei bem o que é, mas boa parte do show não diz respeito a você, e sim ao que as plateias trazem para o espetáculo e o quanto elas estão dispostas a se abrir. Em todos os shows você vê as pessoas de coração aberto, sabe? É lindo demais. E nesse sentido eu espero continuar me apresentando esse ano. Talvez por ter me colocado mais vulnerável nesse álbum, as pessoas estejam se sentindo mais livres para ser mais vulneráveis também. Acho que é tudo uma questão de conexão com as pessoas e de estimular as pessoas a se unirem, com amor. É muito especial. Parece algo pequeno, mas quando você vê milhares de pessoas dando as mãos, abraçando desconhecidos e dizendo que os amam...

Zane: Isso faz diferença, mesmo.

Florence: Faz muita diferença, especialmente nesse momento. É algo que muda a sua perspectiva e poder ver isso todas as noites é uma honra imensa.

E você, já ouviu Moderation e Haunted House? Confira as músicas novas aqui.


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