Os fãs de Game of Thrones e da Florence + the Machine tiveram um ótimo domingo quando perceberam que a música que tocava nos créditos finais. Jenny of Oldstones, era cantada por Florence Welch. O jornal americano New York Times conta a história da gravação e entrevistou a Florence. Confira a matéria original aqui e leia nossa tradução logo abaixo da imagem. Todos os direitos desta tradução estão reservados para o Site Florence Brasil.
Florence durante apresentação em 2018. Foto: Emma McIntyre/Getty Images para KROQ/Entercom
Game of Thrones: líder da Florence + the Machine fala sobre a pungente música dos créditos finais.
Texto: Jennifer Vineyard
Poucas bandas contemporâneas preencheram os créditos finais de Game of Thrones. O Hold Steady, por exemplo, gravou a música dos bêbados de Westeros, The Bear and the Maiden Fair, enquanto o The National gravou a balada sinistra The Rains of Castamere. No episódio desta semana, a Florence + the Machine, o último grupo a fazer isso, segundo a HBO.
O que foi muito adequado: a banda foi uma das primeiras que os showrunners da série, David Benioff e Dan Weiss, tentaram recrutar.
Isso foi na segunda temporada, uma eternidade em termos de cultura pop, quando eles queriam que a líder da banda, Florence Welch, cantasse The Rains of Castamere. Ela recusou o pedido na época, mas Benioff e Weiss não desistiram da ideia de tê-la na trilha da série.
“Sempre fomos muito fãs da música da Florence,” disseram eles em um comunicado conjunto. “Então sempre buscamos uma oportunidade para ouvir sua voz sobrenatural em nossa série. Ainda estamos agradavelmente chocados por ela ter aceitado cantar Jenny of Oldstone e nós amamos o resultado.”
Talvez tenha sido mais fácil convencê-la agora que Welch, como tantos milhões de pessoas, virou fã de Game of Thrones.
Vídeo oficial com a letra de Jenny of Oldstone. Fonte: HBO.
Durante o episódio, Podrick Payne (Daniel Portman) canta uma parte da trágica balada romântica enquanto é exibida uma montagem com Sam e Gilly, Sansa e Theon, Arya e Gendry, Missandei e Grey Worm. A cena termina quando Dany se aproxima de Jon, talvez como um sinal. A versão dele tem um ar de desesperança. A de Florence, contudo, parece capturar mais os mistérios inerentes à canção, mesmo que ela não fizesse ideia do que acontecia no episódio enquanto gravava a música, conforme disse em entrevista pelo telefone.
Florence fez uma pausa nas comemorações do aniversário de 80 anos do avô em Galveston, Texas, para conversar sobre a música e seus possíveis significados. (Ela brincou que estava ligando de Westeros.) A seguir estão trechos editados dessa conversa.
Game of Thrones licenciou uma de suas músicas (Seven Devils) para um trailer, mas esta é a primeira vez que você grava algo especificamente para a série. Você é fã? Em que ponto começou a gostar de Game of Thrones?
Eu perdi as duas primeiras temporadas, mas descobri depois e assisti o máximo possível de uma vez só [Risos]. Eu maratonei. Eu me lembro de ficar “Nossa, isso é incrível. Como eu não comecei a ver antes?” Estou feliz por tudo estar se resolvendo agora. Todas as famílias terão que parar de brigar entre si porque existe algo maior em jogo. Acho realmente interessante porque ecoa o que está acontecendo hoje em dia com a crise ecológica. Quero muito saber no que isso vai dar. Quando saiu a segunda temporada? Há quantos anos foi isso?
A segunda temporada foi em 2012, há sete anos.
Uau. E vendo esse trailer hoje, sete anos depois eu pensei “Ai, meu Deus, a série é importante pra [palavrão].” Especialmente considerando o quanto a série cresceu desde então. Acho que aconteceram muitas coisas assim na minha carreira, eu não tinha noção do quanto eram importantes.
Algum arrependimento de ter recusado o pedido anterior da série para gravar uma versão de The Rains of Castamere?
Ai meu Deus. [palavrão] Eu recusei? Não lembro [risos] Acho que foi durante os meus “anos loucos”. Para ser bem sincera, tem muita coisa que parece meio nebulosa. Eu não estava tão... envolvida ou tão concentrada como estou agora, digamos assim.
Mas mesmo nos anos nebulosos, quando havia muito caos, eu era bem cautelosa em relação ao que aceitava. Eu tendo a ser muito cuidadosa em relação as músicas que canto, então fico feliz por eles terem voltado a me procurar. Eu fico realmente emocionada por estar na última temporada e ser a última cantora. E sinto gratidão por estar um pouco mais presente para isso, para celebrar o fim de Game of Thrones em um momento mais tranquilo da vida.
Que tipo de direção eles deram para você em Jenny of Oldstones?
Eles tinham apenas uma melodia simples, bem crua e ritmada. As notas pareciam uma canção folk celta para mim. Achei realmente linda. Amo a ideia de dançar com fantasmas e jamais querer ir embora. Isso faz todo o sentido pra mim. Sinto que faço isso todas as noites no palco.
Eu trabalhei com Thomas Bartlett no High as Hope e ele é um gênio do piano. Ele me ajudou a formular os acordes e depois eu adicionei o meu coro, meu soprano infernal. Nós tentamos nos manter dentro do mundo de Game of Thrones, manter o ar fantasmagórico.
Essa é uma música cheia de mistério nos livros...
Sério? Tem uma tristeza nela e me pareceu meio assombrada. Eu sempre me atraio por esse tipo de coisa. Ela é sobre o quê?
Na verdade, não sabemos muito. Embora tenha escrito mais versos, George R. R. Martin incluiu apenas uma parte da letra no texto até agora: “Lá no nos altos salões dos reis que se foram, Jenny dançava com seus fantasmas.” Nós ouvimos falar sobre a canção e sobre a Jenny, que pode ter sido uma bruxa ou apenas amiga de uma bruxa ou uma das Filhas da Floresta. Um príncipe Targaryen abdicou do trono para se casar com Jenny, então é uma história de amor, mas também uma tragédia misteriosa, visto que o príncipe morreu em Summerhall.
Os fãs têm várias teorias, que a música fala de uma profecia, que foi composta por Rhaegar Targaryen. Na série, Jenny alega ser descendente dos Filhos da Floresta. Então os fãs estavam esperando isso há um tempo.
Uau! Ai, meu Deus, é perfeito! Para ser sincera, é tudo tão controlado em Game of Thrones que não falaram nada da parte visual. Nós não sabíamos o que ia acontecer no episódio. Não disseram nem o nome do episódio pra gente. Foi tudo tão cheio de segredos, tão misterioso! Quando eu ouvi a melodia, evocou algo bem forte em mim. Você meio que sente que existe uma presença na música, algo que tem história. Então fico muito feliz por ela realmente ter uma história tão rica!
É engraçado porque não me passaram essas informações. Eles só mandaram a música e eu falei: “Tudo bem, consigo fazer isso.” Músicas com as quais as pessoas se identificam se sentem livres para chorar. Eu definitivamente gosto de fazer esse tipo de música, então eles provavelmente pensaram “Muito bem, vamos chamar a Florence.” Talvez eles quisessem o meu toque pessoal na música. Provavelmente teria sido muita pressão, se eu soubesse de todo esse peso da importância da música. Eu só espero não ter decepcionado os fãs que estavam ansiosos por ouvi-la. Ainda bem que não me passaram essas informações. Eu ia pensar demais e ficar empacada.
Como assim?
Eu queria manter a música o mais simples possível. Ela fica um pouco mais complexa no final, mas eu realmente queria manter a simplicidade da melodia e da letra que me mandaram, pois eu achei muito comovente. Se eu soubesse a história da música, certamente diria: “[Palavrão], precisamos de trombetas e você vai ter que colocar um dragão aí de alguma forma.” Eu teria exagerado, como às vezes faço. Então fico feliz de não saber isso na época, mas adorei saber agora. É melhor ter a beleza e a fragilidade juntas. Eu certamente teria feito algo grandioso demais, se soubesse o quanto a música é importante pra [palavrão]!”
Existe uma convenção nas histórias de fantasia sobre canções mágicas, músicas que tem um efeito mágico. Esta pode ser uma delas.
O ato de cantar tem uma espécie de magia pra mim. É um tipo de canalização. Quando estou cantando, eu me sinto muito em paz, como se estivesse conectada a algo maior. Poder levar as pessoas a esse estado é uma espécie de magia física porque você está transcendendo a si mesmo, mas trazendo todos com você. Uma das coisas mais mágicas que fazemos como seres humanos é cantar, especialmente cantar juntos. Acho que é por isso que sempre fui obcecada por corais, grupos de vozes que podem alcançar algo maior do que o nosso eu físico. Então é uma espécie de alquimia. É difícil explicar, mas definitivamente tem algo de ritual nisso.
Você já viu algumas das sugestões que você poderia interpretar a Melisandre?
Sim! Eu topo muito ser a Melisandre. Ela é assustadora! Às vezes me confundem com a Sansa Stark também, então pensei que você iria falar disso. Mas eu aceito a Melisandre. O lance de ser bruxa, definitivamente é a minha cara. Se bem que quando tiro minhas joias, eu não me transformo em uma velha. Ou será que me transformo?
Aproveite para ouvir Jenny of Oldstones aqui.