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"Consegui gravar o 'High As Hope' apesar dos meus demônios, não por causa deles", diz Florence

Atualizado: 21 de mai. de 2022


Hoje saiu uma entrevista reveladora da Florence ao jornal norte-americano Boston Globe. Confira a matéria original aqui e nossa tradução logo abaixo da foto. Lembrando que todos os direitos desta tradução estão reservados para o Site Florence Brasil.

Foto: Vincent Haycock

Florence Welch fala de sobriedade, ‘High as Hope’ e recomeços.

Por: Isaac Feldberg, correspondente do Globe, 23 de maio de 2019

É início de abril e Florence Welch finalmente está se sentindo descansada. Em um mês, ela retomará à turnê, impressionando estádios inteiros com o equilíbrio barroco entre graça e frenesi que poucos artistas pop conseguem fazer tão bem quanto Florence + the Machine. Mas quando Welch falou com o Globe antes de uma nova leva de datas nos EUA (incluindo uma parada nesta quinta-feira no Xfinity Center em Mansfield), ela estava fazendo uma pausa em casa no sul de Londres, bem longe do palco.

“Eu apenas durmo,” diz a ruiva, empolgada. “Eu não saio de casa. Os coitados dos meus amigos dizem ‘Eu quero te ver’, mas eu não consigo me mexer.”

O fato de Welch ser conhecida por dar tudo de si no palco é um dos motivos pelos quais a Florence + the Machine é tão poderosa ao vivo. As datas mais recentes da turnê foram particularmente exaustivas, porque o quarto e mais recente álbum de Welch, High As Hope, também é o mais pessoal de todos. Welch refletiu sobre a produção dele, sobre ficar sóbria e sobre a tempestuosa década passada.

Pergunta: Você descreveu o High As Hope como um álbum vulnerável. Por quê?

Florence: Talvez ele seja meu lado mais real do que o lado mágico para o qual às vezes eu vou em minhas músicas. Ele se baseia mais no cotidiano e isso já é vulnerável em si. É muito fácil se esconder por trás de metáforas esotéricas e eu não fiz isso nesse álbum. Removi uma camada. Você aproxima mais as pessoas e, como elas aceitaram você como você é — humana e com falhas —, você se sente mais livre.

Pergunta: Transtornos alimentares, depressão, luto, a solidão insuportável de estar viva... Você certamente cobre temas emocionalmente difíceis. Deve ter sido gratificante ver os fãs aceitarem isso.

Florence: Eu sou muito grata aos fãs que tenho. Sinto que eles me entendem de alguma forma. Existe uma afinidade na qual se eles vierem aos shows eu darei tudo de mim para eles. Nas músicas eu digo a eles coisas que não falo nem para os meus amigos mais próximos.

Pergunta: O High As Hope articula maravilhosamente essa exploração das dificuldades. Também é o primeiro álbum que você fez totalmente sóbria. Como musicista, você viu como uma parte da indústria cai no estereótipo de sexo, drogas e rock’n’roll e como outra parte trabalha para destruí-lo. Como a sua perspectiva em relação à indústria musical e o seu lugar nela mudaram nos últimos dez anos?

Florence: Eu definitivamente acreditei nessa ideia sobre o rock’n’roll. Eu acreditei na ideia que se eu pudesse fazer beber mais do todo mundo, eu seria mais rock’n’roll. E antes da situação ficar ruim, eu amava isso para caralho. Antes de ficar realmente ruim, eu achava que era muito boa nisso. E esse é o problema de pensar que você é muito boa em beber, que na verdade você provavelmente não é. Não é bom sair a semana inteira quando você deveria sair apenas uma noite.

Pergunta: Mas quando você convive com isso o tempo todo, fica mais difícil se dar conta, não?

Florence: Eu cresci nessa cena musical do sul de Londres que tinha muito álcool e era assim que eu entendia o ato de me apresentar em público. Você ficava o mais bêbada possível e depois pegava um balde de tinta e você tinha uma banda ou não tinha, mas ia lá se apresentar assim mesmo. E o Lungs foi totalmente assim. Eu só estava tentando beber mais do que todos os caras. E tive muito sucesso nisso, preciso dizer. Eu me orgulhava pelo fato de ser um ambiente tão dominado pelos homens e eu conseguia beber mais do que toda essa gente. Mas tive que desaprender isso. Eu queria ser uma dessas pessoas que estavam pouco se fodendo, que não se importavam com o que faziam em uma noitada, se bebiam até apagar. Essa é a ideia do rock’n’roll, que você não se importa.

Pergunta: E isso não era você.

Florence: Eu me importava demais! Eu era muito sensível e frágil e eu estava tentando deixar de ser assim à força. Eu não entendia o quanto eu era sensível e não estava sentindo isso totalmente até aceitar que é possível ser feminina, emocional, sensível e também ser headliner. Que você pode usar uma porra de chiffon e continuar no mesmo nível dos homens. Isso ajudou no meu processo de cura, eu acho. Eu também tinha medo do caos ser a minha criatividade, temia que ambos estivessem interligados e que sem dor, eu não conseguiria criar.

Quando fiz o How Big, How Blue, How Beautiful eu estava entrando e saindo da sobriedade. Há muito desespero naquele álbum: “I’m gonna be free and I’m gonna be fine but maybe not tonight” (“Eu vou ficar livre e vou ficar bem, mas talvez não hoje à noite”, trecho de Delilah). Eu finalmente consegui fazer a turnê desse álbum sóbria, mas para compor, eu ficava entrando e saindo desse pesadelo e o primeiro dia em que fechamos a porta do estúdio para gravar foi na primeira semana em que fiquei sóbria. Foi horrível [Risos]. Muito ruim.

Pergunta: Mas você também ficou mais honesta consigo mesma no sentido de sair dessa vida, não foi?

Florence: Toda a turnê do How Big, How Blue foi uma espécie de catarse porque fazer turnê sóbria era novo. Isso realmente me ajudou a me reencontrar. Quando fui gravar o High As Hope eu já estava sóbria há alguns anos e a liberdade criativa que isso me deu foi inigualável. Foi como se eu estivesse fazendo o primeiro álbum de novo. Mais para o fim [do meu período de bebedeira] eu estava péssima, aparecia no estúdio do dia errado, chorando, arrancando as músicas de mim, sofrendo demais. Dessa vez eu estava presente e reconquistei minha autonomia criativa. As músicas fluíram. Eu estava escrevendo poesia. Consegui fazer isso apesar dos meus demônios, não por causa deles.

Pergunta: Parece que o High As Hope também fala sobre ver a luz no fim do túnel, é isso mesmo?

Florence: Quando você começa a estar presente na vida, tudo muda. É uma espécie de milagre. Eu realmente penso que quase joguei fora tudo o que recebi. E é maravilhoso estar de volta.

P.S: O repórter Isaac Feldberg disse nesse tuíte que precisou deixar de fora a seguinte informação: Florence no momento está fissurada no supergrupo feminino boygenius, composto por Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus.


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