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"Nos shows eu quero criar um lugar seguro para as pessoas se emocionarem", diz Florence à


Para promover os shows do dia 13 de julho em Londres, Florence deu uma grande entrevista à Evening Standard Magazine, que foi publicada na íntegra hoje, depois de uma versão resumida ter sido divulgada ontem.

Antes de conferir a nossa tradução exclusiva, vale dizer que *a revista cometeu um erro gritante tanto no título quanto no conteúdo da matéria ao dizer que Florence está sóbria há apenas dois anos, quando a própria cantora e compositora já disse em várias entrevistas que deixou o álcool e as drogas há mais de quatro anos.

Dito isso, veja a tradução logo após a imagem da capa e lembre-se: todos os direitos desse texto estão reservados. A tradução pode ser divulgada somente com os devidos créditos para o Site Florence Brasil. O texto original está aqui.

Foto de Bella Newman. O título diz: "Florence: Por que continuamos amando a rainha do pop poético."

Com quatro ábuns lançados e sóbria há dois anos*, Florence Welch está mudando tudo

Laura Craik fala com a cantora e compositora sobre autoimagem, como superar a ansiedade na turnê e por que é tão importante dar as mãos

Foto de Bella Newman

O estúdio na região Leste de Londres onde eu a encontrei é totalmente Florence: um oásis de idiossincrasias repleto de folhagens verdes e objetos vintage.

Eu me lembro das frases de uma poema de Byron: "She walks in beauty, like the night/Of cloudless climes and starry skies," (“Ela anda em beleza como a noite/De climas sem nuvens e céus estrelados’, em tradução livre), o que soa pretensioso, mas convenhamos: uma entrevista com Florence Welch jamais aconteceria em um hotel qualquer.

“Ah, ali está o meu cobertor,” ela sorri, enquanto nos acomodamos em um sofá decorado com um tecido bordado e ela gentilmente tira as joias para não fazer barulho na gravação. A voz da Florence suave como a da sua professora de Inglês favorita e não dá a menor pista do poder de seus pulmões quando ela está no palco.

O palco vem sendo a casa da cantora nos últimos 12 meses, visto que ela está viajando o mundo desde agosto do ano passado para promover seu quarto álbum, High As Hope. Daqui a três semanas, Florence + the Machine vai se se apresentar no Hyde Park e ela admite que sempre fica mais nervosa ao fazer shows em casa. “Não dá para esconder nada. As pessoas viram você desde que era uma criatura do pântano de cabelos vermelhos berrantes, sem sobrancelhas e coberta de lama, aí agora você aparece vestindo Gucci e é como se eles dissessem: ‘Não, nós ainda conhecemos você. Nós nos lembramos.’”

Foto de Bella Newman

Hoje ela usa um longo vestido vintage na cor creme, não muito diferente das roupas que usava no início da carreira quando tocava em bares minúsculos na região de Camberwell onde nasceu, mesmo que o sucesso multiplatinado de seus quatro álbuns permitam que ela se entregue ao gosto por Valentino, The Vampire’s Wife, Batsheva e Gucci, que fez os vestidos para esta turnê. “É engraçado que nosso senso estético é muito parecido,” diz ela sobre o diretor criativo da Gucci, Alessandro Michele. “Somos muito iguais. Acho que dentro de mim existe um homem italiano e dentro dele existe uma ruiva inglesa.”

Agora com 32 anos, os cabelos ruivos estão mais suaves, em um tom mais calmo que parece refletir o estado mental da cantora. Após o vasto sucesso do álbum Lungs em 2009, que vendeu mais de três milhões de cópias, venceu um Brit Award e gerou a inescapável versão de You’ve Got the Love, é notório que ela se perdeu e teve dificuldades para lidar com a fama e a ubiquidade. “Foi um estouro muito rápido. Quando surgi [na cena musical], eu estava feliz em ser um pouco estridente, mas logo começaram a me atacar por ser exagerada. Quer dizer, eu estava bêbada boa parte do tempo, o que talvez explique isso. Para ser sincera, talvez eu fosse apenas uma bêbada babaca.” Os jornalistas começaram a criticar a personalidade de Florence em vez da música, o que ela considera doloroso. “Eu parei de fazer muitas entrevistas e comecei a me isolar. Não queria que a ideia de virar uma personalidade ofuscasse a minha música.” Ao se isolar, ela diz que salvou a própria sanidade. “Acho que quase consegui deixar de ser famosa de alguma forma,” embora se arrependa de ter cedido às pressões para ser convencional. “Eu preferia não ter decidido me esconder. Mesmo estando bêbada na época, eu não quero sentir vergonha por isso, está entendendo? Quero dizer às jovens mulheres por aí que não precisam fazer isso.”

Foto de Bella Newman

Welch abandonou as drogas e o álcool há pouco mais de dois anos*. “Estou feliz por ter conseguido ficar sóbria longe dos olhos do público. Quase tudo na minha vida ficou exponencialmente melhor depois que parei de beber, mas estar sóbria durante grandes turnês é bastante solitário.” Ela não acha o processo de fazer turnês fácil. “Sou basicamente uma eremita. Eu alterno entre tentar ficar no sul de Londres o máximo possível, andando por aí... Até esse negócio imenso [de fazer turnês]. Na primeira semana de turnê eu entro em choque. Fico realmente assustada e questiono como é possível viver assim a longo prazo. Eu não consigo dormir e fico ligando para minha empresária, dizendo: ‘Eu não posso mais fazer isso. Essa é a última.’ Aí no final eu entro totalmente no clima. É quase como um círculo vicioso: na primeira semana eu fico ‘Ai, meu Deus, não, isso é assustador.’ E no fim eu estou: ‘Mal posso esperar para me apresentar de novo.’ Mas na verdade são as pessoas nos shows que me salvam.”

Eu conto a ela o quanto fiquei desconfortável quanto no show do ano passado na O2 Arena ela pediu que todos déssemos aos mãos e quanto fiquei surpresa quando ela nos pediu para desligar os celulares. “Adoro dizer às pessoas para darem as mãos, especialmente em Londres, porque é bom para quebrar a frieza,” sorri ela. “Quando eles dão as mãos, há uma noção de que estamos todos conectados, estamos todos aqui e somos parte de algo maior.”

“A minha preocupação com os celulares é que eles são ótimos para evitar intimidade. Se eu pudesse ficar com o celular no palco, provavelmente ficaria. Então estou falando isso tanto para mim quanto para a plateia. Eu consigo ouvir as pessoas resmungando nesa hora,” ela ri. “Algumas dizem, 'Ai, merda', que é a minha reação favorita. Mas quando as pessoas realmente se unem e se conectam, toda a energia do lugar muda. Dá para sentir.”

Foto de Bella Newman

Talvez só uma pessoa que tenha enfrentado desafios com a própria saúde mental se preocupe tanto com a felicidade dos fãs. “Boa parte do que estamos tentando fazer com os shows é criar um lugar totalmente seguro para que as pessoas liberem e sintam esses grandes sentimentos e se emocionem. Eu nunca tinha percebido que uma parte tão grande de mim quer fazer as pessoas felizes e fico me analisando: ‘Será que é porque sou filha de um divórcio?’ [Os pais dela, Nick e Evelyn, se separaram quando Florence tinha 13 anos]. É quase como se naquele momento, quando vejo todos ao redor dizendo que se amam eu penso ‘Consegui melhorar isso. Eu fiz isso. Consegui melhorar isso.”

A ansiedade de Florence costumava ser muito pior: “Acho que provavelmente eu sempre tive isso em menor intensidade e às vezes de modo mais extremo, desde que me entendo por gente. Eu era uma criança nervosa, excessivamente imaginativa e sensível. Parar de beber usar drogas tive um efeito imensamente positivo. Isso não é bom para quem tem ansiedade. Eu realmente gosto do Instagram, mas não consigo usá-lo por muito tempo porque me deixa totalmente maluca... Eu preciso ter muito cuidado, especialmente quando estou me sentindo sozinha na turnê e penso que vai me ajudar a ficar menos sozinha. Esse negócio de “comparar e se desesperar” é muito difícil, além da ideia que é preciso solidificar sua identidade a cada dia. Isso é complicado porque eu preciso passar muito tempo tranquila, sem estar exposta sob os holofotes. Então toda vez que publico uma foto eu tenho um pequeno ataque de pânico.”

Foto de Bella Newman

Se o Lungs é um álbum que ela descreve como “uma zona, mas no bom sentido,” então o High As Hope é uma espécie de catarse, mesmo com a ansiedade relacionada á exposição que viria por ter feito músicas tão pessoais. “Eu estava preocupada, achando que era outra forma de autodestruição mesmo tendo parado de beber e usar drogas, que essa era outra forma de tentar afundar o meu navio. Mas na verdade, lançar isso para o mundo e ser tão sincera me deixou mais tranquila. É estranho, mas é muito mais fácil viver abertamente. É muito mais fácil não se esconder. Você consegue ser autêntica.”

Ela diz que a irmã mais nova, Grace, estava particularmente preocupada com a sinceridade de Hunger, que começa dizendo: “At 17, I started to starve myself” (“Aos 17 anos, eu comecei a deixar de comer”), lembrando que o transtorno alimentar era algo que a cantora e compositora achava difícil de comentar até com a família. Florence tinha a mesma preocupação da irmã. “Você associa isso com um momento na vida em que sentia muita raiva de si mesma. Eu me preparei para que as pessoas ficassem com raiva dessa sinceridade. Eu internalizei tanta raiva que não conseguia imaginar que ela não seria projetada se eu dissesse isso em voz alta, mas foi o contrário. As pessoas foram inacreditavelmente gentis. Acho que eu não tive fé suficiente nas pessoas.” E como ela se sente em relação ao próprio corpo agora? “Tenho um bom relacionamento com a comida e com o meu corpo o que eu não acreditava ser possível, para ser sincera. Eu só posso falar a partir da minha experiência, mas o que é realmente difícil para as meninas é que elas não querem falar sobre isso, então é complicado conseguir ajuda. É possível, mas é preciso se comunicar.”

Foto de Bella Newman

Welch se lembra de quando tinha 12 ou 13 anos e de “começar a me sentir muito desconfortável com quem eu era. Foi nesse momento que minha estrutura familiar meio que se desintegrou e eu deixei de ter uma família de três pessoas para ganhar uma família de seis pessoas [Além de Grace, Florence tem um irmão e vários meios-irmãos]. Todos estavam fazendo o melhor que podiam, mas você está tentando achar um jeito de entender e controlar o que estava acontecendo. Boa parte disso diz respeito ao controle e eu sou muito controladora.” Quando criança, ela se sentia muito comum. “Eu fantasiava muito, lia livros constantemente e pensava: ‘Não sou uma sereia, não posso respirar embaixo d’água, não posso voar.’ Uma das coisas mais tristes e dolorosas é que me lembro de querer muito transformar magicamente a minha aparência. Nunca tinha falado isso em entrevista alguma. Eu devia ter apenas uns nove anos e só queria ter outra aparência. É tão triste pensar isso e eu odiaria que qualquer pessoa jovem...” Ela não completa a frase. “É difícil até me ouvir falando isso em voz alta. Eu quero abraçar aquela menininha e dizer: ‘Você está bem. Não precisa mudar nada.’”

As músicas da Florence + the Machine ainda lidam com dramas e corações partidos, mas não é o caso da compositora (finalmente!). Ela está apaixonada no momento? “Ah, eu não vou responder isso,” diz Florence com um sorriso beatífico. Por mais confessional que suas músicas sejam, é melhor manter um pouco de privacidade.

Fotos: Bella Newman. Look: Aldene Johnson. Cabelos: Leigh Keates da Premier Hair and Make-up, usando Ouai e Babyliss Pro. Maquiagem: Sarah Reygate da David Artists usando Glossier. Assistentes da estilista: Elle Fell e Molly Morphew. Locação: Clapton Tram Shed


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