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Florence Welch entrevista e é entrevistada por Vincent Haycock para a revista Marvin

A recém-criada revista Marvin publicou esta ótima entrevista dupla da Florence com o diretor do curta-metragem The Odyssey, feito para a era How Big How Blue How Beautiful. Os dois falam da produção do curta e trocam ideias sobre criatividade e arte em geral. A matéria original saiu aqui e você confere a nossa tradução exclusiva logo abaixo da primeira imagem. Todos os direitos desta tradução estão reservados para o Site Florence Brasil.


Florence Welch e Vincent Haycock nos bastidores da gravação do The Odyssey


Florence x Vincent


Texto: Florence Welch e Vincent Haycock

Fotos: Vincent Haycock, Emma Holley


Duas pessoas no auge do talento.

Dois amigos.

Dois colaboradores.

Duas entrevistas.


Uma conversa interessante, informal e íntima entre duas pessoas incrivelmente criativas. Foi o que aconteceu quando o cineasta Vincent Haycock e a cantora/compositora Florence Welch se entrevistaram.


VINCENT entrevista FLORENCE


O que você procura quando vai fazer um vídeo para uma música?


Quando eu faço música, é algo muito visual, e acho que estudar dança contemporânea realmente expandiu os videoclipes para mim, porque agora vejo muito movimento neles. Eu meio que começo a coreografar na minha cabeça enquanto gravo as demos. Acho difícil acertar em videoclipes. Você geralmente só tem quatro minutos para passar a mensagem. (Acho que é por isso que eu gostei tanto do nosso projeto. Por ser mais longo nos deu muita liberdade). Mas acho que procuro imagens que lembrem pinturas. Gosto que as coisas sejam bonitas de um jeito perturbador.


Você pensa em imagens enquanto compõe?


Muitas das minhas músicas têm personagens e histórias, então elas começam a se solidificar enquanto estou compondo. Eu até penso na “canção” como um personagem em si. (Para mim, ele se parece com o Nick Cave), que vem até mim e mostra todo tipo de paisagens sombrias e perigosas.


Um vídeo já mudou o que você sente em relação a uma música?


Eu realmente sinto que o clipe que fizemos para What Kind of Man levou aquela música a outro patamar. Foi uma das filmagens mais angustiantes e emocionantes de que já participei, pois ainda estava nas profundezas do coração partido. Mas acabou sendo um dos melhores trabalhos que já fiz. As imagens que você criou capturaram algo que nem a música em si conseguiu expressar.


Existe algum vídeo ou história que você ainda quer filmar?


Tem uma coleção de contos da Julia Armfield chamada Salt Slow que eu amo. Tem um conto lá chamado Stop Your Women’s Ears with Wax (Tape os Ouvidos de suas Mulheres com Cera, em tradução livre). É sobre uma banda de rock formada só por mulheres cuja música deixa as fãs em uma espécie de transe homicida. Não quero dar spoiler da trama, mas a banda talvez se transforme em corvos? Eu li há pouco tempo e lembrei muito do amor furioso do fandom. Acho que daria um curta maravilhoso. E acho que eu poderia interpretar facilmente uma “mulher-corvo” que leva garotas a um frenesi assassino.


Com quem você gostaria de colaborar, vivo ou morto?


Tenho que escolher Pina Bausch. Ela vem segurando minha mão do além-vida em tudo o que faço. Uma das últimas apresentações que vi antes dos teatros fecharem foi o Barba Azul coreografado por ela no Sadler’s Wells Theatre, em Londres. Foi ao mesmo tempo sensual, suave, violento, assustador e angustiante. Mulheres usado vestidos lancinantes em cores pastéis em um palco repleto de folhas de outono. Escalando as paredes, penduradas como fantasmas no ar. Ela fala diretamente ao meu coração e diz algo sobre a experiência humana que é impossível descrever em palavras.


Que colaborações visuais você admira? Além da nossa :)


Acho maravilhoso tudo o que a Solange cria em termos visuais. A direção de arte sempre me impressiona, ela é uma diretora extraordinária e uma artista visionária. Também gosto muito de tudo o que o Spike Jonze fez com os Beastie Boys. O vídeo de Sabotage ainda me traz muita alegria.



Quando foi a última vez que você se apaixonou por algo e conseguiu o que desejava?


Sabe que eu não sei? Gosto muito de adquirir coisas e tenho dificuldade para lidar com isso. Eu adoro coisas. Amo roupas e livros antigos, além de objetos estranhos. Eu jamais flertei com o minimalismo. Uma das poucas dificuldades que tive com o estilo do The Odyssey foi a falta de padrões. Aquele colete laranja talvez seja a única coisa minimalista que já permiti na vida. Então eu me apaixono quase diariamente por algum tipo de acessório ou livro empoeirado.


Quando foi a última vez que você se apaixonou por algo que fez, mas teve que abrir mão disso?


Criar é algo engraçado. Por mais imaginativa que você considere a sua ideia, pode ter certeza que outra pessoa está pensando exatamente o mesmo naquele instante. A meditação me ensinou que todos nós estamos ligados a uma consciência coletiva compartilhada. E o que você considera uma “ideia revolucionária” na verdade é algo que está borbulhando no inconsciente coletivo, então muitas vezes você precisa abrir mão de algo porque foi para outra pessoa, mas em geral eu penso que se a ideia está destinada a você, então você vai encontrá-la.


Qual é a sua imagem favorita?


Acho que não tenho nenhuma. Como sou uma pessoa muito sensível, me dá prazer andar por aí e olhar ao redor. Eu amo prédios antigos e qualquer vestígio de arquitetura industrial, como castelos d’água ou gasômetros. A casa em que eu morava, onde filmamos Ship to Wreck, tinha um gasômetro verde no fim da rua e parecia uma catedral para mim. O “verde gasômetro” ainda é uma das minhas cores favoritas. Mas da arte em si eu me inspiro continuamente na série Silueta, da Ana Mendieta. Qualquer uma delas poderia ser minha imagem favorita de todos os tempos.



FLORENCE entrevista VINCENT


Fizemos um vídeo lá no começo da nossa parceria que fazia referência a um conto de Sam Shepard. Existe algum livro ou peça que esteja influenciando você agora?


Eu ainda leio muita poesia e peças, o tempo todo. Acho a poesia realmente ótima quando estou buscando inspiração. A simplicidade das imagens que ela evoca se traduz facilmente no trabalho do cineasta. Os poemas que li mais recentemente foram de Danez Smith. Eu realmente gosto de Don’t Call Us Dead e Homie.


Quando trabalha com um artista, o que você quer ver na atuação dele? E que tipo de artista atrai você?


Sempre me atraio pela honestidade. Eu adoro quando um artista sai do personagem ou da atuação para mostrar um lado mais “cru” ou talvez um lado inédito. Quando trabalhamos juntos pela primeira vez, em Sweet Nothing, eu me lembro do quanto foi diferente para você e adorei vê-la assumindo esse novo personagem. E o mesmo aconteceu em Lover to Lover. Também admiro muito quando um artista está disposto a ficar desconfortável e experimentar. É por isso que sempre amei nossas colaborações. Acho que você nunca me disse um “‘não”.


Nós fizemos referência ao Inferno de Dante no The Odyssey. Qual é a sua imagem clássica favorita?


Teria que ser algo de Caravaggio ou Gustav Doré. O Canto 29 do Inferno de Dante, a imagem em que o homem segura a própria mão decepada sempre me impressionou. Eu gostaria de recriá-la algum dia.


Em que você está trabalhando agora? Você consegue encontrar inspiração no caos?


Na verdade, eu ando incrivelmente inspirado. Acho que o caos, a mágoa e a dor são inspirações óbvias. O estado do mundo tem muito peso para mim. Morar em Los Angeles e ver o sofrimento das pessoas, com o movimento Vidas Negras Importam, os incêndios e a Covid me fez mudar de um jeito tão fundamental que não sei se vou conseguir voltar ao que era antes.


Mas de tudo isso vieram grandes mudanças na minha forma de viver e na minha motivação. Recentemente, eu estou usando esse tempo para tentar remover o caos ao meu redor e encontrar a paz com a família. Nós estamos morando em Montana e passei os últimos três meses adaptando um conto de Jorge Luis Borges para um longa-metragem. Também voltei a escrever o filme sobre a internet e o 4chan e estou adorando trabalhar nisso.


Que diretores você admira?


Eu amo muitos diretores. Realmente admiro a maioria, porque fazer algo bom é uma tarefa impossível. Exige muita paciência, prática e tempo. Então eu diria que admiro todos, mas se precisar escolher alguns, sem pensar e sem ordem específica, eu diria que realmente amo os dois últimos filmes de Paweł Pawlikowski, Ida e Guerra Fria, e adorei o filme Atlantique, da Mati Diop. Também acho que meu amigo AG [Rojas] vem fazendo instalações de arte incríveis ultimamente e, por fim, estou empolgadíssimo para ver o novo Duna.


Qual o seu filme favorito de todos os tempos?


Isso é ainda mais difícil que escolher diretor. Uma pergunta quase impossível. Acho que muda de acordo com o meu humor a cada ano, mas sem pensar muito, provavelmente seria algo como Paris, Texas ou Apocalypse Now.



Que álbum você está ouvindo agora?


Eu costumo procurar música instrumental. Estou ouvindo muito Nils Frahm e Alice Coltrane ultimamente. Jazz e instrumentais calmos de piano ajudam a me concentrar esses dias.


Com quem você mais gostaria de fazer um videoclipe, vivo ou morto?


Acho que seria 2Pac, Elvis, Nick Cave, John Lennon ou talvez Prince? Também seria incrível fazer um clipe para Beethoven.


O seu trabalho sempre impressiona em termos visuais. Qual é a sua concepção de “beleza”?


Acho que beleza é uma mistura de fragilidade e força. A mistura da emoção crua com a magia. Quando as coisas são apenas “bonitas”, elas ficam entediantes e indiferentes. Mas fica realmente interessante para mim quando existe algo inóspito dentro de um contexto de beleza. Gosto de encontrar beleza no que talvez não seja obviamente belo na superfície.


Existem várias repetições e uma estrutura bastante não linear no The Odyssey. Foi algo específico do nosso projeto ou você prefere trabalhar com narrativas surrealistas?


Acho que fico mais confortável trabalhando para reimaginar a vida real. Sempre tento encontrar a autenticidade usando momentos da minha vida ou coisas que observo, mas acabo acrescentando um pouco de surrealismo que amplifica a realidade. Nunca aceito a realidade pura. Acho que gosto mais quando imagens desconexas se unem para criar uma ideia nova e totalmente diferente do que transmitiriam individualmente. Às vezes eu faço de modo deliberado, outras vezes inconscientemente, mas sempre me pego repetindo isso.


Vincent Haycock




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