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"Não uso máquina de escrever, é tudo no do celular", diz Florence em evento em Londres

Atualizado: 19 de mai. de 2022


Florence Welch ao lado de Lavinia Greenlaw, autora de The Importance of Music to Girls. Foto: Lillie Eiger. Fonte: Instagram do Between Two Books

No dia 13 de julho, além de muita música e um show da Florence + the Machine, o festival BST Hyde Park sediou um debate sobre a obra da da vez no clube do livro Between Two Books, o excelente The Importance of Music to Girls, de Lavinia Greenlaw. O livro é uma biografia da autora, que conta como a música sempre esteve presente em sua vida e relata sua transformação de frequentadora de festas com disco music (conhecidas como discotecas por aqui) a amante da cultura punk. Nós estávamos lá colados na grade e vamos contar tudo o que aconteceu.

A discussão contou com a presença da autora do livro e foi muito bem conduzida pelas fundadoras do Between Two Books, Leah Moloney e Kate Litman, com perguntas pertinentes sobre a importância da música na vida de uma garota, sobre amizades femininas, relacionamentos amorosos e como a música pode ajudar a lidar com o machismo ao oferecer diferentes formas de ser mulher. Lavinia foi extremamente simpática e fez questão de envolver a plateia no debate, perguntando a importância da música para eles, concluindo pelo relato de duas pessoas (incluindo esta que vos digita) que em geral as pessoas primeiro usam a música para encontrar a própria voz e depois buscar a conexão com os outros, uma análise precisa. Nem mesmo o som alto do festival impediu a conversa de fluir.

Claro que a anfitriã do clube do livro ia dar as caras por lá. Florence chegou de mansinho, falando um "Oi, pessoal!" com aquela voz calma e carregando um celular, o livro da Lavinia Greenlaw e um caderninho cheio de anotações. Quando ela apareceu o assunto era cortes de cabelo feitos quando a pessoa estava bêbada (porque a Kate do Between Two Books faz isso com as amigas) e Florence imediatamente comentou que o famoso cabelo ruivo nasceu de um impulso embriagado: com um comprimido de Valium e muito vinho na cabeça ela entrou em um salão chamado Roc Hair e decidiu pelo tom de vermelho que virou marca registrada. Florence não recomenda que seus fãs façam o mesmo, mas Kate e toda a plateia concordam que o ruivo funciona muito bem para ela. Florence brincou dizendo que agora precisa manter o visual a cada três semanas por causa dessa decisão.

Quando Lavinia Grewnlaw contou que teve uma banda aos 19 anos, mas deixou esta parte de fora do livro porque a banda era ruim e os garotos que eram seus colegas não deixavam que ela se destacasse, Florence concordou veementemente e disse que adora trabalhar com outras pessoas, mas quando teve bandas com homens ela se sentiu um acessório porque o papel da frontwoman era apenas cantar e ser sexy e ela até tentou fazer isso, mas não se sentiu bem. Além disso, Florence queria compor e minguem deixava porque ela não sabia tocar nenhum instrumento muito bem (ela contou que toca um pouco de bateria e piano, mas nada de violão). Foi só quando outra garota mais ou menos da mesma idade (a Isa “Machine” Summers) ofereceu um pequeno teclado Yamaha mesmo ciente que Florence não sabia tocar, que ela começou a compôr. Isa foi a primeira a pessoa a ceder o instrumento em vez de tocar no lugar da Florence. Ela também lembra que Dog Days Are Over foi uma das primeiras músicas que compôs com a Isa e não é preciso tocar bem um instrumento para fazer música.

Kate Litman do Between Two Books, Florence e a autora Lavinia Greenlaw na tenda do clube do livro. Foto: Patrícia Azeredo

Segundo Florence, em um determinado momento, a gravadora quis que ela fizesse um álbum inteiro no estilo de Kiss With a Fist e My Boy Builds Coffins por serem mais próximas do som que todos faziam na época, mas embora ame essas músicas pelo que elas representam, ela queria fazer algo diferente.

Lavinia Greenlaw contou uma história surreal sobre alguém ter enviado anonimamente uma carta com críticas negativas ao seu livro, o que fez Florence cobrir o rosto com as mãos em um misto de desespero e vergonha alheia. Sobre críticas negativas, a líder do Florence + the Machine ficou arrasada quando a famosa publicação britânica NME destruiu o Lungs em uma crítica, mas não só ela nem lembra mais dos detalhes do texto como se sente motivada a melhorar, dando a entender que procurou compor e produzir ainda mais para calar os detratores. Com o tempo Florence também se deu conta que algumas pessoas simplesmente não vão gostar do trabalho dela e tudo bem.

Florence pediu para não filmarem a conversa porque ela fica tímida e só permitiu imagens rápidas. A fotógrafa Lillie Eiger, que vem acompanhando a turnê do High as Hope, estava registrando tudo com discrição e cuidado. Mais para o fim do evento Florence agradeceu à plateia por ter sido super respeitosa e não tê-la colocado diante de um mar de celulares.

Ela também falou que procura a entonação certa ao ler um poema, enfatizando certas partes para obter mais efeito. Impossível não notar a associação entre poesia e música. Mesmo quando está escrevendo poemas, a compositora pensa em termos de melodia e ritmo.

O painel completo do evento: Kate Litman, Florence Welch, Lavinia Greenlaw e Leah Moloney. Foto: Lillie Eiger. Fonte: Twitter da Leah Moloney

Em seguida Florence leu algo em seu bloco de notas do IPhone para motivar o público a declamar as próprias notas na parte de "microfone aberto" que aconteceria na mesma tenda logo após o debate. Ao ver o conteúdo do seu celular, ela disse: “Nossa isso é bem pesado”, depois escolheu mais um pouco e decidiu ler um texto no qual falava que se Jesus voltasse hoje, teria belos peitos (sim, peitos de mulher) e os evangélicos pensariam “Ai, merda”.

Quando Florence pegou o iPhone rosa para ler suas anotações, comentou: “As pessoas acham que eu uso uma máquina de escrever velha, mas é tudo no bloco de notas do telefone. E elas se espantam quando me veem com um celular, mas é claro que eu tenho um celular, porra! (risos)”

Por fim, ela leu o New York Poem (for Polly) do Useless Magic tendo ao fundo o show do Blood Orange, liderado pelo amigo de longa data Dev Hynes. Primeiro houve dúvida: "Não sei bem como isso vai funcionar, vai ser uma espécie de medley", depois ela achou que ia conseguir aproveitar um intervalo entre músicas para ler, avisando: "Vou fazer isso bem rápido agora", mas quando viu que não ia conseguir soltou um "Merda" e brincou: "É isso. Esse é o poema". A leitura acabou fluindo muito bem com um vocal feminino suave ao fundo e a batida surgindo no momento certo, logo após a parte do "this is the new shit" (leia o poema completo com tradução aqui). Ela definiu a leitura como um "experimento" e definitivamente foi muito bem sucedido.

Antes de sair, Florence anunciou o que aconteceria ao longo do dia na tenda: a parte de "microfone aberto" onde a cantora Self Esteem leria seus poemas seguida pelo público e depois uma mesa sobre curadoria de livros com o Juliano Zaffino do YourShelf. Distraída, ela quase esqueceu sua edição do Importance of Music to Girls no confortável sofazinho da tenda.

Agora só nos resta aguardar mais eventos presenciais do Between Two Books, ótima iniciativa feita por fãs e aprovadíssima por Florence Welch.

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