No dia 12 de dezembro de 2019, Florence participou do 11º episódio do podcast As Me With Sinéad com a escritora, acadêmica, influenciadora e radialista irlandesa, além de ativista em prol das pessoas de baixa estatura e da acessibilidade na moda Sinéad Burke. As duas conversaram por aproximadamente 50 minutos, em um dos episódios mais longos do podcast até agora.
O papo foi tão intenso e longo que nós vamos publicar a tradução em quatro partes, todo domingo aqui no site. Lembrando que todos os direitos desta tradução estão reservados para o Site Florence Brasil. Antes de ler a quarta e última parte, leia a primeira, a segunda e a terceira parte.
Você pode ouvir o As Me With Sinéad no Spotify, Apple Podcasts ou no mesmo site onde está a transcrição em inglês do episódio. Entre colchetes está a minutagem das falas, para facilitar a localização. E a conversa está logo abaixo da imagem!
[38:32] Sinéad Burke: Qual a peça do seu guarda-roupa que te dá mais alegria agora? Que não está ligada a medo e terror, só alegria.
[38:42] Florence Welch: Só alegria. Ai, meu Deus. Acho que agora eu descobri do que gosto. Acho que chegar aos 30 ajuda nisso. Fiz muitas experimentações nos meus 20 anos. Quer dizer, sempre houve uma espécie de tema envolvendo estampas florais vintage ao longo de todo o processo, mas aconteceram umas fases estranhas. Agora, o que me traz alegria? Sabe de uma coisa? Estranhamente, são as peças que uso todos os dias. É legal chegar aos 30 anos sabendo o que funciona para mim e poder me sentir bem com isso. Além disso, eu tenho um casaco laranja de lã, estilo Penny Lane, que comprei em um brechó em Berlim há uns oito anos e usei em todas as fases da minha vida. Tipo, eu o usei enquanto cambelava bêbada pelas ruas de Nova York, ele está comigo há muito tempo. E já usei tanto que as pessoas dizem “Você precisa arrumar um casaco novo, porra.”’
[39:53] Sinéad Burke: Moda sustentável. Moda sustentável.
Estou mais feliz do que nunca com o meu corpo. Levei muito tempo e deu muito trabalho para conseguir isso.
[41:10] Sinéad Burke: Aos 33 anos, como é viver no seu corpo agora?
[41:15] Florence Welch: Uau. Sabe de uma coisa? Eu estou mais feliz do que nunca com o meu corpo. Levei muito tempo e deu muito trabalho para conseguir isso. Eu tenho esse negócio quase bonito chamado ambivalência corporal. Eu não sou “a gostosona.”
[41:36] Sinéad Burke: Seria até estranho se fosse.
A dança teve um papel imenso para curar o relacionamento com o meu corpo.
[41:36] Florence Welch: Eu não acordo mais e penso “argh,” sabe? Agora eu vejo o corpo como algo que trabalha a meu favor, não contra mim. Ele me carregou por tanta coisa e eu o tratei terrivelmente mal. Eu o julguei, ataquei, fiz bullying e ele continua presente para mim, É uma espécie de amor incondicional. Acho que a dança teve um papel imenso para curar o relacionamento com o meu corpo, porque antes eu estava fazendo todo tipo de coisa... No primeiro ano em que fiquei sóbria foi uma loucura. Eu fazia bikram yoga e o Barry’s bootcamp no mesmo dia. Não era... Sabe como é? Quando você deixa uma coisa de lado, acaba arrumando outra. Eu estava inconsolável. Era estranho porque eu estava de coração partido por causa de um cara, mas também estava supermagoada porque as drogas e o álcool não funcionavam mais para mim. Eles eram uma parte determinante da minha personalidade e de quem eu achava que deveria ser porque era rock'n'roll. E para ser uma estrela do rock eu achava que você precisava ser invencível quando se trata dessas coisas.
[43:00] Sinéad Burke: Eu não bebo e nunca usei drogas. Surpreendente, eu sei. Sou virgem nesse assunto, mas para mim, especialmente sendo irlandesa, quando falo que não bebo, as pessoas querem saber o motivo. Acho que percebi que precisou de muito pouco para me tirar de uma posição em que estava me divertindo e me deixar em uma posição de não saber quem eu era ou onde estava devido a minha massa corporal. Além disso, também percebi como eu posso existir em espaços públicos e como as outras pessoas reagem a mim. Tive experiências em casas noturnas em que as pessoas simplesmente me levantaram do chão. Homens ficaram na minha frente e abriram a braguilha no meu rosto achando que era brincadeira. Eu me lembro de ter 18 anos e tomar essa decisão muito importante de não me colocar em posição vulnerável para os outros. Foi só quando eu estava muito mais velha que alguém me disse: “Então você não bebe por causa do mundo.” Eu também acho que por causa disso eu arquitetei uma personalidade na qual eu posso dançar em cima da mesa que está entre nós inteiramente sóbria, como você bem sabe. Mas existem momentos em que eu queria beber só para ter a desculpa de falar: “Eu disse isso? Não me lembro de nada!” Infelizmente, eu sempre lembro, mesmo quando não gostaria de lembrar. Quando você acorda de manhã, qual é o monólogo na sua cabeça?
House um período em que eu não tinha confiança em relação ao meu corpo. Eu me achava acima do peso e feia.
[44:30] Florence Welch: Eu preciso de café. É terrível. Vou me arrastando para tomar café. E realmente quero me livrar de um vício porque é quando eu deveria estar escrevendo um diário ou fazendo algum tipo de lista de gratidão, se eu estivesse realmente nessa onda do autocuidado. A primeira coisa que faço de manhã é tomar café e olhar o Instagram. Estou tentando me livrar da porra desse vício porque eu não uso o Instagram no resto do dia, só de manhã enquanto faço café eu fico olhando o feed. Mas não acho que seja um bom jeito de começar o dia.
[45:07] Sinéad Burke: O que eu amo no Instagram e o que eu tento fazer é deixar o feed educativo, então faço questão de seguir pessoas que viveram experiências sobre as quais eu não sei nada. Se você pudesse voltar no tempo e conversar com a jovem Florence, especialmente aos 10 ou 12 anos, o que você diria?
Eu estava perdendo o controle até sobre o lugar onde eu ia morar ou quem fazia parte da minha família. Foi quando surgiram a ansiedade e um desejo desesperado por segurança e controle. E a primeira coisa que você pode começar controlar é a alimentação ou a aparência.
[45:30] Florence Welch: É difícil, não é? Houve um período em que eu não tinha confiança em relação ao meu corpo. Eu me achava acima do peso e feia. É tão triste quando vejo fotos minhas naquela idade hoje porque eu era uma criança bonitinha, talvez um pouco gordinha, mas todo mundo tem isso na infância. Acho que eu gostaria de dizer a mim mesma que eu era o bastante. Que eu era boa do jeito que era e não precisava mudar nada. E também aprender naquela idade a confiar no meu corpo, sabe? Confiar no corpo e que você não precisa controlar tudo. Porque acho que já naquela época eu comecei... Eu estava perdendo o controle até sobre o lugar onde eu ia morar ou quem fazia parte da minha família. Acho que foi quando surgiram a ansiedade e o desejo, um desejo desesperado por segurança e controle. E a primeira coisa que você pode começar a controlar é a alimentação ou a aparência. Acho que seu eu pudesse dizer àquela pessoa que não tem problema em deixar para lá, mas é algo muito difícil de dizer a uma criança, não é?
[46:20] Sinéad Burke: Pois é, o que você sabe da vida nessa época?
Ainda não sou a pessoa mais centrada do mundo, mas estou melhor do que antes.
[46:42] Florence Welch: Você não imagina que elas já precisam saber disso nessa idade. Você imgina que elas deveriam apenas se divertir. Também gostaria de dizer a ela que eu acabei virando a pessoa com a qual ela sonhou, sabe? Eu diria para a jovem Florence não se preocupar, pois vai usar essa sensação esquisita e detestável para fazer algo lindo e virar a pessoa que você imagina. Porque muito do que pensei ao criar a Florence + the Machine é literalmente o sonho de uma criança de 10 anos. Será que estou dormindo? O momento atual é igualzinho ao meu sonho aos 10 anos! Você sabe que boa parte do que fiz foi quase para compensar a infelicidade em relação a mim mesma. O que me deixa feliz é que eu conquistei tudo isso de um jeito diferente que imaginei. Não foi deixando de comer, nem sendo a pessoa mais bêbada da festa. Às vezes eu era a mais divertida, mas muitas vezes não era. Leva um tempo para aprender. Eu cheguei ao ponto de ser a pessoa que aquela menina de 10 anos gostaria de ser confiando no meu corpo e na minha mente. Eu era uma das pessoas que mais bebiam no nosso grupo e tinha as piores ressacas. Mais do que qualquer outra pessoa. Meu corpo não reagia bem, assim como a saúde mental. Na verdade, eu parei porque finalmente disse: “Não posso mais fazer isso com o meu cérebro” e confiei no que meu cérebro e corpo estavam me dizendo. Graças a isso eu virei a pessoa que sou hoje, que ainda não é a pessoa mais centrada do mundo, mas é melhor do que antes. O que mudou foi que, especialmente durante esse álbum e sendo mais aberta em relação aos meus problemas, eu me permti ser realmente eu mesma na esfera pública, o que é muito libertador. Você fica muito mais tranquila...
[48:59] Sinéad Burke: Bom, você não tem mais nada a esconder.
Minha família me chama de Flossie.
[49:01] Florence Welch: Eu falei literalmente tudo para todo mundo. Quer dizer, literalmente. Se você coloca uma expressão como “ménage à trois abortado” em um poema, não precisa falar mais nada. Sinto que já contei tudo para todo mundo.
[49:14] Sinéad Burke: Não tem mais nada para discutir. Eu liguei para minha mãe quando estava no táxi vindo para cá e a última coisa que ela me disse foi: “Agradeça à Florence por mim.” Porque você fez a gentileza de convidar minha família para o seu show na Irlanda. E tratou todos tão bem que nunca vou esquecer. Significou tanto, mas tanto que mnha família chegou ao ponto de chamar você de Flo. Eu corrigia: “É Florence.”
[49:42] Florence Welch: Eles podem me chamar de Flo. Ou então de Flossie. Minha família me chama de Flossie.
[49:47] Sinéad Burke: Ah, isso vai subir à cabeça deles. O que eu mais admiro em você, entre tantas qualidades, é a gentileza e eu pude me beneficiar dela, como tantas outras pessoas. Foi um imenso prazer e não tenho palavras para agradecer essa entrevista.
[50:02] Florence Welch: Obrigada por me receber. Foi muito, muito bom. Obrigada.
[50:11] Sinéad Burke: Que conversa maravilhosa. A Florence é incrível por vários motivos, não só por ser talentosa, forte e tão honesta em relação às próprias experiências para ajudar todos nós a aprender e a nos sentir conectados, mas nesse verão ela foi muito gentil com a minha família e convidou todos para ver um show dela. Eu nunca tinha visto meus pais, meu irmão e minha irmã tão empolgados. A gentileza e generosidade dela com as pessoas que eu mais amo nunca será esquecida.
E aí, gostaram? Essa foi a última parte da entrevista, que foi publicada aqui em quatro domingos. Leia também a primeira, a segunda e a terceira parte desse podcast revelador!
亚博体育 亚博体育 亚博体育 亚博体育 开云体育 开云体育 开云体育 开云体育 乐鱼体育 爱游戏体育 华体会体育 华体会体育